A escola ainda poderá levar algum tempo para realizar seu papel principal
A sociedade atual, marcada pelo avanço científico e tecnológico, abriu caminhos para novas relações culturais, sociais e econômicas. Não sendo um mundo descolado de um contexto mais amplo, a escola não se constitui como um espaço inerte às tensões da sociedade. Exige-lhe mudanças nas formas de relações e interações, ao tratamento da informação e construção de conhecimentos que permitam a seus estudantes desvelar e participar ativamente na realidade. Como nos aponta Freire (2011, p. 87) “o conhecimento envolve a constante unidade entre ação e reflexão sobre a realidade”.
A educação é um processo que envolve valores, transmissão e construção de relações sociais e, por isso precisa estar voltada para as transformações culturais da sociedade. Acreditamos que para que as práticas educacionais, na escola, possam estar voltadas à altura do nosso tempo e serem de fato inclusivas precisam ser efetivamente emancipatórias, que suscitem processos de conscientização, compreensão crítica e participação, sendo uma instituição realmente inclusiva. O que requer o domínio de habilidades básicas por nossos educandos, entre elas, o domínio da leitura, escrita e cálculo e seus usos em diferentes contextos como instrumentos de entendimento da realidade. Concordamos que na educação “que se faz por meio de palavras, não pode ser rompida a relação pensamento-linguagem contexto ou realidade” (FREIRE, 2001, p. 70).
Estamos imersos em nossa sociedade em contextos cada vez mais letrados. As práticas sociais que exigem o domínio da leitura e escrita e cálculo são cada vez mais amplas e dinâmicas e em diferentes contextos, inclusive no ambiente virtual. No entanto, importa levar em consideração não apenas a (de)codificação dos códigos escritos e numéricos, mas a promoção de maneira contextualizada desses signos, compreendendo seus usos nas diferentes funções sociais que deles emergem.
Isso implica um constante repensar da escola em termos de revisões conceituais sobre o papel e função da educação, o que é conhecimento, o que é inclusão, entre tantas outras. Demanda também, o replanejamento da reorganização da dinâmica de ensino e aprendizagem, que deixa de se dá exclusivamente no interior da sala de aula.
Essa realidade exige a todo o momento, a disposição em poder agir de forma consciente, nas diferentes situações, especificamente no cotidiano escolar, das situações de aprendizagem que são criadas condizentes e à altura do nosso tempo. Exige, sobretudo, o "olhar mais crítico possível da realidade, que ades-vela para conhecê-la e para conhecer os mitos que enganam" (FREIRE, 1980, p.29). E esse processo de conscientização precisa começar desde a infância. E isso não é fácil, “estamos em uma nova época histórica, uma nova ordem global, em que as velhas formas não estão mortas, mas as novas ainda não estão inteiramente formadas” 285 (SAVIANI, 2011, p. 118). Isso requer intencionalidade clara dos professores no seu fazer.
Consequentemente, presenciamos diversas tensões por que sofre o trabalho de educar atualmente. Sem ter a intenção de elevar uma etapa de ensino em detrimento à outra, o processo de humanização, de participação cidadã deve iniciar desde os primeiros anos de ensino. Compreendemos, todavia, que isso não é simples. Um trabalho educativo que conduza a inclusão dos alunos de nosso tempo, menos ainda. A escola ainda poderá levar algum tempo para realizar seu papel principal: ler, escrever, contar de maneira que contribua de fato para que os educandos possam conhecer e desvelar a realidade de modo crítico. Esse é um grande e importante desafio que precisamos contemplar. Para tanto precisamos refletir nosso o papel do professor e da escola como importantes e fundamentais agentes de formação, de inclusão educacional e social de nossos alunos.
Para tanto precisamos refletir nosso o papel do professor e da escola como importantes e fundamentais agentes de formação, de inclusão educacional e social de nossos alunos.
Marcia Cristina da Silva Martins - Professora dos anos iniciais na rede municipal de ensino; Pedagoga; Pós-graduação (AEE- Atendimento Especial Especializado.).
Fernanda Soares de Lima – Pedagoga; Pós (Psicopedagogia).