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Contos de Fadas

Cláudia Regina Delarcos 05/11/2019 Artigos

O Conto de Fadas pode ter diferentes representatividades nos diferentes momentos da existência

Artigo de Cláudia Regina Delarcos

Por que os Contos de Fadas dão contribuições psicológicas positivas para o crescimento interno da criança e acrescenta significados à sua vida?


A infância e as relações psicossociais que se associam, nem sempre estiveram em um parâmetro pré-estabelecidos. Ao contrário, várias foram as motivações que se fizessem repensar na criança como construção histórica e ser em desenvolvimento ao contrário do “adulto em miniatura” que era a premissa de até poucos anos atrás.
Como um ser em desenvolvimento, é muito importante os caminhos que trarão a consciência num processo socio-cognitivo. As estórias contadas às crianças, pavimentam as possíveis formas que as farão relacionar-se com o mundo desconhecido até então.
Neste sentido, os Contos de Fadas, fazem com que suas narrativas produzam nas crianças este suporte. Os Contos de Fadas tiveram sua origem em tempos remotos e nem sempre se apresentaram como conhecidos hoje. Pertencentes a literatura Infantil, por vezes, agrada também leitores de todas as idades. Considerado um gênero clássico, foram ao longo do tempo, se adaptando ao que hoje conhecemos como conceito de infância, haja vista que seus enredos raízes muitas vezes eram controversos e polêmicos. Desta maneira, procurou-se moldar tais enredos dando um aspecto lúdico e fantasioso. Bruxas, magos, fadas, posicionam em seus intelectos e fazem as crianças trilharem infinitas descobertas e delinearem “bem e mal”, “alegria e tragédia”, entre outros.
Para Bettelheim (1980), os Contos de Fadas possibilitam descobrir significados por ela mesma.
A história só alcança um sentido pleno para a criança quando ela é quem descobre espontânea e intuitivamente os significados previamente ocultos. Essa descoberta transforma algo recebido em algo que ela cria parcialmente para si mesma. (p. 8)
O autor ressalta que por meio dos Contos de Fadas a criança tem contato com o mundo fantástico, porém com sentimentos e características humanas e reais, confronta-se com dilemas que são descritos de maneira fácil a compreensão que atinge principalmente seu inconsciente.
Os Contos de Fadas explicitam de maneira breve e acertadamente as intrigas entre irmãos, como por exemplo, em Cinderela; a busca por aceitação em O Patinho Feio; o medo das consequências ao desobedecerem aos pais, em Chapeuzinho Vermelho; a desconfiança com relação a pessoas desconhecidas, em João e Maria. Essas relações inconscientes transpõe a barreira do ficcional e se adapta ao mundo real. Cinderela, que fez parte de muitas infâncias, por ser o mais conhecido contemporaneamente, trouxe os aspectos fantásticos que se chocaram com a realidade triste da menina, aproximando valores como a empatia. Em seu inconsciente (da criança) forma-se que o arquétipo do mal é representado pela bruxa, ao passo que Cinderela, pelos percalços que sofre, é entendida como o bem. Esta dicotomia vai, ao longo do tempo, moldando o seu estado emocional de forma a absorver valores que apenas ditos pelos pais ou professores não seriam suficientes.
Essa absorção das crianças faz com que elas retomem o sentido quando das reais necessidades de postura e ação. Um exemplo disto, é que elas sabem que não são tão boas quanto o que dizem seus pais. Se reconhecem em alguns sentimentos como egoísmo e o narcisismo e muitas vezes faz com que este reconhecimento, intuitivamente, freie suas possíveis posturas com relação ao outro.
Bettelheim (1980) afirma que  as crianças aceitariam mais sua condição, desde que clivados com recursos do inconsciente para sua defesa e saberiam lidar melhor com situações adversas num processo de auto- valorização e confiança, ou seja, antes do “viveram felizes para sempre”, teríamos que colocar os aspectos maus e destrutivos de nossa personalidade sob nosso controle. (p. 38)
Desta forma, segundo Bethelheim, o Conto de Fadas pode ter diferentes representatividades nos diferentes momentos da existência, todavia, ao longo da vida ficarão marcados por valores socioculturais que repercutem nas relações interpessoais contemporâneas. Isto tudo com início na infância.

Cláudia Regina Delarcos

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