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PUBERDADE METAMORFOSE FAMILIAR

Maria José Alves Soares; Mércia Geraldo Pereira; Solange Luiza de Oliveira 26/11/2019 Artigos

O adolescente, tentando descobrir novas direções e formas de vida, desafia e questiona a ordem familiar até então estabelecida

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Como consequência, a adolescência afeta o ciclo vital familiar e seu estilo de vida mais do que qualquer outra fase da vida, pois desestabiliza o sistema e provoca novos ajustes para manter as relações e a saúde mental de seus membros. Durante esse período as famílias também estão se ajustando a novas demandas de seus membros, que estão entrando em novos estágios do ciclo de vida. Os pais enfrentam questões maiores, como a "crise do meio da vida" de um ou ambos os cônjuges, com exploração das satisfações e insatisfações pessoais, profissionais e conjugais, ao mesmo tempo em que os avós passam pela experiência da aposentadoria e possíveis mudanças, como doença e morte. Os pais podem ter de se transformar em cuidadores de seus próprios pais ou ajudá-los a integrar as perdas da velhice. O adolescente, tentando descobrir novas direções e formas de vida, desafia e questiona a ordem familiar até então estabelecida. A ambivalência independência/dependência vivenciada por ele cria tensão e instabilidade nas relações familiares, o que frequentemente leva a conflitos intensos que podem tornar-se crônicos. Por serem tão intensas, as demandas adolescentes por maior autonomia e independência frequentemente precipitam mudanças no relacionamento entre as gerações, fazendo aflorar conflitos não resolvidos entre pais e avós (dos adolescentes), em sua infância ou adolescência. Os pais, além de reavaliar e analisar sua própria adolescência, bem como os pais de seu período adolescente, enfrentam novos estágios de seu ciclo vital, aparecendo então novas preocupações: a perda do corpo jovem e a aproximação da aposentadoria e da velhice. O estresse e a tensão normais provocados na família por um adolescente são exacerbados quando os pais sentem uma profunda insatisfação e são compelidos a fazer mudanças em si mesmos. O que muitas vezes se cria é um campo de demandas conflitantes, em que o estresse parece ser transmitido para cima e para baixo entre as gerações. O conflito entre os pais e os avós pode ter efeito negativo sobre o relacionamento entre os pais e o adolescente. O impasse também pode ocorrer em direção oposta: um conflito entre os pais e o adolescente pode afetar o relacionamento conjugal, o que acaba prejudicando o relacionamento entre os pais e os avós. Na adolescência, a evolução da dependência absoluta da infância à autonomia adulta pode ser um momento doloroso para pais e filhos. Muitas vezes, os pais sentem um vazio quando os adolescentes se tornam mais independentes, pois percebem que não são mais necessários como antes e, dessa forma, sentimento de perda (perda da criança) e medo de abandono podem ocorrer. As vezes os pais, incapazes em lidar com a perda da dependência do filho, podem apresentar-se depressivos. Da mesma maneira, o adolescente precisa lidar com a perda do eu infantil e da família como fonte primária de afeto. A perda desse primeiro vínculo romântico também pode desencadear depressão no adolescente. Esse duplo movimento de luto do qual participam pais e filhos foi denominado por Stone e Church ambivalência dual. Toda mudança implica em aceitação da perda. Assim, a adolescência exige mudanças estruturais e renegociação de papéis nas famílias, que se transformam. De unidades que protegem e nutrem os filhos, as famílias passam a ser o centro de preparação para a entrada do adolescente no universo das responsabilidades e dos compromissos do mundo adulto. Elas constituem fronteiras mais flexíveis, permitindo aos adolescentes se aproximarem e serem dependentes nos momentos em que não conseguem manejar suas vidas sozinhos, e se afastarem e experimentaremos desafios, com graus crescentes de independência, quando estão prontos. Isso exige esforços especiais de todos os membros da família. A construção psicológica do adolescente tem em conta sua história pessoal, bem como suas novas competências sexuais, cognitivas e sociais. A história familiar do adolescente não se inicia na adolescência, estando presente mesmo antes da infância, durante a gravidez, planejada ou não.

Maria José Alves Soares, formada em pedagogia e pós-graduada psicopedagogia clínica e institucional.
Mércia Geraldo Pereira, formada em pedagogia e pós-graduada psicopedagogia.
Solange Luiza de Oliveira, formada em pedagogia e pós-graduada educação infantil.

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