Realmente, somos muito mais do que um simples CPF. Muito mais!
Posso fechar a conta? Me pergunta a moça do O Boticário.
Sim pode! Respondo, ainda vagando pela loja entre as prateleiras, já com o produto escolhido sendo embalado. Pareço “enrolado”, mas gosto de ser objetivo. Será que eu passei álcool em gel na mão quando entrei na loja?!
Ouço a mulher do caixa: Qual a forma de pagamento e o CPF? Por gentileza senhor.
Débito, 009... espera aí, é para acumular pontos né?
Isso mesmo!
Então coloca o dela... 724.XXX.XXX-XX. Digo sem interrupção.
Do outro lado da loja a outra atendente me olha e pergunta: você sabe o CPF da sua esposa de cór? Nossa!
Nem respondo a afirmativa.
Ficamos todos rindo da minha boa memória ou sei lá do que. Retiro o cartão e pego minha sacola: Obrigado.
No caminho para o carro, enquanto ajeito minha máscara e mexo o molho de chaves vago comigo que além do número do CPF guardo comigo outros inúmeros dados dela: número do telefone, RG, data nascimento, será que tirei mistura para janta, nossos CNPJ’s, dados bancários, datas comemorativas que só a gente sabe e por aí vai.
Paro na calçada: Onde é que eu estacionei o carro mesmo?! De fato, sempre que preciso os números aparecem de alguma "caixinha" da memória, no automático, sempre gostei de números e cálculos, nosso cérebro de fato é fantástico, gostar de alguém também é, e demonstrar muito mais.
Achei. Dou a partida e vou "para casa", pacote no banco do lado, eu e minhas memórias voltando para "ela", ligo o som e deixo na rádio local enquanto a locutora anuncia as promoções do dia, solto a embreagem e acelero.
No caminho, entre um semáforo e outro, penso comigo, as atendentes iam ficar impressionadas em saber que além do CPF dela eu sei quando ela está preocupada, ou cansada, ou feliz, ou brava, ou com fome, ou querendo um doce, ou quando está precisando de um café, ou acordar mais tarde, ou quando só está querendo um carinho ou um abraço, ou o quanto gosta de um presente sem motivo aparente, sei muito mais do que números prontos e fáceis de memorizar, sei porque gosto quando ela sorri para mim ou de mim, tanto faz, sei e nem precisei decorar. Cheguei, e esqueci de abastecer o carro de novo.
Fim do dia, agora já são 22h57 de uma quinta-feira, pandemia e quarentena, Théo acabou de dormir, Enzo ainda pula na sala em frente à TV, e ela, acreditem, ela ainda está empenhada nas encomendas da semana aqui no Ateliê, com expediente iniciado as 08 da manhã, quer um café? Pergunto, ela acena com a cabeça e um riso.... Já volto! Vou passar o café e pegar meu notebook para terminar meus relatórios aqui contigo. Realmente, somos muito mais do que um simples CPF. Muito mais! Boa noite.
Nossa, esqueci o pacote no carro!
Lévender Mattos - Tangaraense de coração, casado com a Patrícia “Fada”, e Pai do Gabriel, do Enzo e do Théo. Escreve como passatempo e terapia. Idealizador da página @paiterapia.
