Às vezes precisamos deixar as crianças errarem por conta própria
Esses dias numa tarde, estava eu e minha filha pela casa, ela abriu a geladeira e viu um pacote de queijo chique, da minha esposa, cada fatia embalada num plástico, nem sei o nome daquilo. Minha filha viu e claro pediu, de tão bonita que era a embalagem.
— Papai, o que é isso?
— É o queijo da sua mãe, guarda de volta na geladeira.
— Mas papai, eu amo queijo, eu quero.
— Filha, você não gosta de queijo e não vai gostar deste. Você só vai desperdiçar.
— Não papai, eu aaaaamo queijo.
— Você tem certeza? O papai vai abrir e você vai ter que comer tudo. TUDO.
— Tá bom papai.
Ao fim desta conversa ela começou a dar pulos de alegria, gritando ebaaaaaaa. Tirei a fatia do queijo, imaginando que ela não comeria, cortei um pedaço e disse: pegue, é para comer tudo. Após dizer pensei e corrigi, pode comer, mas se não gostar devolva ao papai, não precisa comer tudo. Ela pegou a fatia, saiu feliz da vida foi lá para o fundo, depois de uns 2 minutos, voltou:
— Não gostei papai.
Dei um sorriso, abaixei, a olhei nos olhos e disse: eu disse que não iria gostar. Peguei o pedaço de sua mão e ela voltou a brincar com as cachorras. Por alguns milésimos de segundos deu vontade de dizer: Bem feito, toma, eu não disse? Agora vai comer tudo e deixar de ser gulosa, “zoiuda”, olhos maior que a barriga.
Crianças são assim, não pode ver algo diferente que já quer, mesmo dizendo que é ruim, mas se não experimentar fica inquieta, ainda mais se o pacote for atraente, colorido e cheio de desenhos. E quando quer te perturba e repente tanto que quer aquilo que você cede e quando a criança não gosta, fazemos o quê? Jogamos “na cara”: viu, falei, agora coma tudo, quantas crianças passando fome e você aí desperdiçando comida.
Fiz muitas compras com a certeza que iria gostar do produto e ao experimentei não gostei. Já foram ao supermercado com fome? É o inferno! Você volta com comidas que não precisava, mas só percebe isso depois que está com a barriga cheia, olha para as compras e diz, caramba nem precisa disso tudo, isso que dá ter os olhos maiores que a barriga. E aprende que jamais deve ir ao mercado com fome.
Às vezes precisamos deixar as crianças errarem por conta própria, para experimentarem o que é bom e ruim (desde que não coloque sua segurança física/emocional em perigo), há situações que sabemos, elas não vão gostar, mas a pedido delas, precisamos deixar, e quando acontecer, precisamos acolher e dizer, o que achou? Gostou? Não quer mais? Pode me devolver.
Portanto, por incrível que pareça, elas aprendem, minha filha quando oferece queijo ela diz: não gosto. No futuro ela pode voltar a gostar, mas hoje ela sabe o que é e diz: não gosto e olha que nem precisei enfiar goela a baixo.
Euller Sacramento é psicólogo e especialista em (re)conectar pais e filhos emocionalmente. Instagram: @eullersacramento
