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Feminismo e meninos

Rosana Leite Antunes de Barros 28/07/2020 Artigos

A infância de outrora foi bastante diferente do que hoje acontece

Artigo 'Feminismo e meninos'

É recorrente que o mundo está em mudança. Há pouco tempo atrás, as falas machistas, piadas, e comentários contrários aos direitos humanos eram normais. E assim as crianças eram criadas e educadas. Os meninos então, nem se fala. Tinham que mostrar virilidade desde pequeninos, inclusive, “engolindo o choro”.
A infância de outrora foi bastante diferente do que hoje acontece. Comum era mostrar a tal diferença entre homens e mulheres, deixando bem clara. Os gêneros masculino e feminino tinham papeis bastante delimitados. Não havia qualquer margem para agir de outra forma. Lembro-me de programas televisivos da década de 80, tal como, Os Trapalhões.


Por certo, as falas eram politicamente incorretas e acabavam por tornar natural algumas discriminações. Deixavam evidente que os homens não precisavam ser educados, e, quando assim se portavam, usavam até certa frase: “Hum, filombeta!”. Sem contar o quanto os homossexuais eram hostilizados naquele programa de TV. E com enorme audiência!


Os homens eram criticados até pela forma de sentar. Dependendo da maneira que cruzavam as pernas, chamados de afeminados. Tratar bem os homossexuais? Não, não podiam. Ora, corriam o risco de com eles ser confundido. “Que perigo!!!”


Os brinquedos eram muito bem delimitados. Tinham como principais os carinhos de meninos, e, as bonecas de meninas. Bolas? Às vezes as meninas podiam brincar também, dependendo da família. Todavia, eram mais normais serem dedicadas aos meninos. Tudo isso é deveras engraçado! Mulheres sempre dirigiram. Para cuidar dos filhos e filhas, nem sem fala.


E os homens, não são genitores? Homens nunca terão que balançar e ninar filhos e filhas? As mamadas, somente as mães continuarão responsáveis? E agora a pergunta: porque almejam a paternidade, então?


Tempos atrás o casal de cantores Sandy e Lucas Lima mostraram o filho Theo brincando de boneca nas redes sociais. Nossa! Houveram enxurradas de comentários maldosos. “Como pode, ele não é menino?”  Pergunto: Esse menino não conviverá com crianças na fase adulta? É proibido que ele carregue bebês no colo? E se quiser ser pai futuramente?


O feminismo tem na atualidade alguns desafios. Um deles é a forma de criação dos meninos e meninas pelos pais e mães, de maneira mais igualitária. Chimamanda Ngozi Adichie, em “Para Educar Crianças Feministas: Um manifesto”, diz ser moralmente urgente conversas honestas para preparar um mundo mais justo para mulheres e homens.


A bem da verdade, o mundo deve se educar. Não digo reeducar, porquanto, não houve lealdade na forma que homens e mulheres foram educados. Existe necessidade de começar, justamente, do início. Apagar tudo que foi ensinado no quesito divisão de papeis, pois, mais que provado que essa cisão nunca deveria existir.


As meninas e meninos precisam entender sobre os valores reais da sociedade para que o futuro não seja de sofrimento. Vivemos na atualidade o período pandêmico. Todos os gêneros em home office, ou seja, dentro de casa. A lucidez de que o mundo mudou, e que não teremos encontros com pessoalidade é a realidade atual. Somente as mulheres continuarão, como sempre, em duplas e triplas jornadas? Mesmo com ambos dentro de casa?


Imaginemos elas no papel apenas e mãe, esposa e dona de casa na atualidade. Haveriam perdas? Apenas os homens provendo o lar? Como ficaria a economia? E a saúde de todos e todas?


As perguntas acima possuem o condão de fazer pensar como tudo se construiu até agora. E, também, se teria alguma vantagem para a sociedade o retorno, quando as mulheres somente tinham que andar atrás, nunca ao lado.


Amar meninos é ensinar que não há diferenças, deixando de fomentar preconceitos e violências. Feminismo? É isso...  

 

Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual.

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