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Pai anônimo

Lévender Mattos 07/08/2020 Artigos

Um feliz dia dos pais. Pais de verdade, mas cuidado, cuidado com a vaidade, de verdade

Artigo 'Pai anônimo'

Em uma época de inovação da paternidade um dos elementos mais prejudiciais é o elogio da sociedade a esse protótipo de ‘novo’ pai moderno - vamos chamar de Homo Desatentus Erectus Nutella (acabei de criar).


Atenção pais, o exercício contínuo de luta contra a vaidade é entender o valor do ato anônimo. Aquele sem a intenção de likes sabe, difícil, porém muito mais efetivo, e afetivo.


Inúmeras vezes vejo como estórias de circo o tratamento da mídia e a resposta da sociedade a atitudes corriqueiras e pormenores da tentativa de ações e cuidados de pais, tentando ser normais, nesse bombardeio de informações, ou somente incrementar na criação dos filhos frente à que tiveram, ou tentando suprir a ausência de tempo presente com os filhos.


Nesse cenário, vejo empresas desesperadas em busca do "pai foda" para vender produtos e serviços aos seus (meus) filhos (aqui um sentimento misto de: que top, outro de: que merda).


Eu, você, nós, nos rotulamos como 'pai herói', inflamados pelo ego com elogios próprios e alheios, e pior, ainda criticamos pais menos fodas do que achamos que somos, competimos com outros pais, outras mães, com nossas esposas, queremos o holofote isolado, e isolante. Queremos os parabéns solitários e egoístas.


Herói, na utopia dos dias (atuais) parece que estamos em Gothan City, querendo ser o Batman, esperando “o chamado” no céu, mas ignorando os inúmeros pedidos sutis dos filhos, já passou da hora de sair da escuridão e principalmente tirar a capa e o alter ego de herói procurando no céu o que está nos olhos dos filhos, hora de deixar de ser herói, afinal, Gothan não precisa mais de você.


Nessa competição frenética, o filho está lá, isolado, trancado em casa, refém da tecnologia e do cômodo da casa, filho de pais distraídos, preteridos pelo celular e redes sociais, filhos sedentos de carinho e atenção real de pais que se acham generais, mas não passam de soldados rasos. Filhos pedindo carinho e amor irracional, aquele não publicável sabe, carente de afeto demorado. Às vezes repreendidas em suas iniciativas, ora apressado a rotina dos pais, ora envergonhado na sua infância, ora ignorado, ora querendo somente algumas horas com seus pais, horas em paz, horas de paz, horas de pai, e de mãe, anônimo mesmo.


Um feliz dia dos pais. Pais de verdade, mas cuidado, cuidado com a vaidade, de verdade.


Assinado,
Pai anônimo.

 

Um feliz dia dos pais. Pais de verdade, mas  cuidado, cuidado com a vaidade, de verdade

 

Lévender Mattos
Filho do seu Levino. Pai do Gabriel, do Enzo e do Théo. Casado com Patrícia Fernanda “Fada”. Acha o Batman o máximo. Deseja um Feliz dia dos PAIS a todos. IG @levender_mattos. Idealizador da página @paiterapia.



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