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Ele é Surdo e um Cidadão Brasileiro

Jane Strey 25/09/2019 Artigos

É preciso que soltemos as amarras do preconceito, da intolerância e da indiferença para que um grupo de pessoas se sinta pertencente em nosso país

Artigo

Dia 26 de setembro, comemora-se o Dia do Surdo. Data historicamente marcada pelo início da luta do surdo em nosso país. Luta essa, marcada por conflitos identitários por querer ser visto e reconhecido como cidadão brasileiro.


Muitas leis foram oficializadas, muitos decretos e portarias criadas, mas ainda a sua aceitação na sociedade é “truncada”. O medo, o receio de nos aproximar e ter contato com um outro que fisicamente aparenta ser normal, mas que no momento em que ele se “mostra” como surdo nos faz afastar, lhe deixando um sentimento de rejeição, de não merecedor da sua atenção, sentimento de não pertencimento.


POR QUÊ?
Talvez porque não conseguimos imaginar o que é e como é ser surdo e viver no silêncio. Talvez por não conseguirmos nos colocar no lugar dele, não nos permitimos entrar no “mundo” dele buscando sentir o que ele sente, aprender da maneira como ele aprende.


Desde criança recebemos informações através dos sentidos, crescemos fazendo associações entre imagens e falas usando a nossa visão e audição. E os significados são construídos gradativamente conforme vamos ouvindo, vendo e sentindo.


E quando um dos sentidos nos falta (a audição, já que é dos surdos que estou me referindo), algumas situações simples podem se tornar complexas e complicadas. Como quando chegamos em casa e nos alimentamos em família trocando ideias, assuntos, e nos comunicamos sem soltar os talheres na mesa, sem olharmos um para o outro tentando compreender a fala que está sendo dita, desacelerando a nossa mente, nos permitindo ser invadidos pelo bem-querer.


Quando vamos a loja, escolher um vestuário, um celular, um móvel, basta verbalizarmos que o pedido e as condições de pagamento são compreendidos.


Há mais de cem anos o surdo quer que “soltemos os talheres na mesa”, quer ser invadido pelo bem-querer, quer ser visto e compreendido, quer ser um Cidadão Brasileiro.


Há algum tempo, um surdo disse ao um ouvinte: “- Pra mim é difícil aprender a falar o Português porque não ouço, mas pra você é fácil aprender LIBRAS, só precisa querer! “


É preciso que soltemos as amarras do preconceito, da intolerância e da indiferença para que um grupo de pessoas se sinta pertencente em nosso país.
VIVA O DIA NACIONAL DO SURDO!

Jane Strey
Professora e Intérprete de LIBRAS



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