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Um amor para Recordar

Amanda Bernardes 30/03/2021 Memória

Números não tem nomes, nem amores, as pessoas têm

Memória

Um amor para Recordar

Uma história de amor que merece ser contada e eternizada nas páginas do jornal e não esquecida em dígitos de uma estatística assustadora. Números não tem nomes, nem amores, as pessoas têm.

O nome dele era Marco Antônio Bernardes e o dela Marileide Bernardes, Santos Pereira Bernardes, destaco o sobrenome de solteira porque foi ele o causador de tanta discórdia na união dessas duas almas, além, é claro, da cor da pele dela: minha mãe era morena, família pobre e meu pai branco do olho azul, de uma família de posses, e então, posso resumir, para você leitor, a aceitação por parte da família dele foi difícil, talvez até hoje…mas eles lutaram de 1987 até dia 14 de março deste já tão fatídico ano de 2021.

Contrários a união, a proposta da família era a seguinte: “se você (Marco) a deixar terá parte em herança e poderá desfrutar de muito conforto em São Paulo com sua família, caso contrário pode voltar ao Mato Grosso, mas esqueça seus privilégios”. Eu já tinha 6 meses, minha mãe estava muito doente, e meu pai tinha partido para São Paulo para ajudar meu avô nos negócios e voltaria nos buscar antes que eu nascesse, mas a conversa mudou quando chegou, e tentou juntar um dinheiro para vir de vez cuidar da sua família, por isso se deu o atraso. Mas veio e ficou 34 anos – não são 34 dias, enquanto suas irmãs desfrutavam do conforto e segurança com a herança já partilhada em vida.

Para isso, meu pai foi trabalhar de “peão” em sítios, tirar leite de madrugada de vacas que não eram dele, preparar silo para o gado enquanto minha mãe lutava pela vida de hospital em hospital. Com uma fé inabalável ela alcançou graça e teve a saúde restaurada, trabalhou ao lado do seu amado arduamente para conquistarem o mínimo de conforto para sua única filha. Conseguiram, com muito esforço e trabalho digno, me formar, me viram casar, me viram mestre, viram meus filhos nascerem e após tocarem a vida de muitas pessoas encerraram seu propósito aqui na terra.

Se contaminaram com esse vírus que não tenho prazer em citar o nome, tentaram ficar em casa juntos o máximo que conseguiram, internaram juntos, foram para UTI juntos, e mesmo com toda sua própria dor ela se preocupava só com ele, e vice e versa. Em seu último bilhete minha mãe escreveu num papel toalha “ti amo d+ d+ você é boa parte da minha vida ou seja a melhor, meu amor!!! Vamos lutar pela vida com todas as forças... o Pedro e a Geo esperam por nós, eu pedi maçã pra você” e entregou para que a enfermeira levasse até o leito do amado. A enfermeira com muita empatia guardou o bilhete e assentiu a promessa, mas não pode cumprir pois meu pai já estava intubado, logo ela também foi. Foram 19 dias de batalha, vendo as forças um do outro cessarem, em um último contato já no sobrenatural deram as mãos e se foram juntos no mesmo domingo dia 14, me deixaram, mas foram para junto do Pai Celestial. Esse é um amor que eu quero recordar... para sempre!

Homenagem da filha do casal, Amanda Bernardes.



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