Projeto está sendo elaborado e deve ser apresentado na Câmara ainda neste ano
Em julho deste ano o professor de Educação Física, Nelson Carlos Ferreira Júnior apresentou ao prefeito de Tangará da Serra, Vander Masson, um documento para a criação do Projeto Bolsa Atleta, destinado à concessão de ajuda mensal aos atletas praticantes do desporto de iniciação e rendimento no município.
A proposta, neste momento, está com a Secretaria Municipal de Esportes, a quem cabe a formatação final do projeto e envio à Câmara Municipal para apreciação e votação.
Em entrevista exclusiva ao DS, Nelson Ferreira Júnior explicou que a ousada proposta de uma Bolsa Atleta Municipal não é nenhuma novidade, pois esteve no Programa de Governo apresentado à população durante a campanha e o anteprojeto foi apresentado ao Chefe do Executivo Municipal ainda em julho deste ano, pela vereadora Elaine Antunes, do Podemos.
O projeto de lei, segundo ele, estabelece algumas regras, como, por exemplo, ser um atleta de talento, indicado pelo professor de educação física, ser um medalhista estadual, ou até brasileiro.
“A partir disso é que nós poderemos novamente sonhar em ter um atleta olímpico, um jogador de futebol profissional ou um atleta participando de um Campeonato Mundial”, ressaltou Nelson Ferreira, Atleta Olímpico de Atlanta 1996 e Sidney 2000, na modalidade de salto em distância.
Em Tangará da Serra desde 2017, Nelson Ferreira teve algumas experiências importantes e bons resultados com alunos/atletas talentosos.
“Neste lugar temos crianças talentosas, incríveis, o material humano é muito bom”, explicou.
A Bolsa Atleta Municipal é uma alternativa para enfrentar um problema que é recorrente também nas escolas. Em determinado momento os adolescentes abandonam os estudos para se dedicar exclusivamente ao trabalho.
“[…] Infelizmente o que mais tem acontecido aqui é quando o menino/menina, o atleta está em formação e tem que parar de treinar para trabalhar. Não podemos julgar isso, pois cada família sabe de sua realidade. Todo mundo adora assistir uma olimpíada, todo mundo bate palma, mas poucos conseguem perceber todo o trabalho que é feito antes. É isso que o Governo Municipal tem que fazer, apoiar quem tem talento. Essa bolsa atleta vai apoiar quem tem talento no esporte, motivar a continuar treinando e logicamente auxiliando a família”, ressaltou Nelson Ferreira.
Luan Santos dos Reis, 17 anos, aluno da Escola Estadual João Batista é um clássico exemplo. Bom aluno e atleta dedicado, foi campeão brasileiro de Lançamento de Dardos – esporte olímpico –, também ganhou medalhas no lançamento de disco e revezamento 4 X 100. Luan, que fez parte da equipe do professor Nelson, recentemente abandonou os treinamentos e foi trabalhar como “menor aprendiz” num supermercado da cidade. Para completar a renda, trabalha à noite na lanchonete do tio. Agora ele quer ser agrônomo uma vez que o sonho de ser atleta olímpico ficou mais distante.
Rodrigo Alves de Oliveira, 18 anos tenta terminar o Ensino Médio no sistema EJA – Educação de Jovens e Adultos. Pretende fazer vestibular para a Faculdade de Educação Física no próximo ano. Ele também foi apontado pelo professor Nelson como um atleta de talento. Em 2019 conquistou o primeiro lugar no Campeonato Estadual de Salto em Distância em Minas Gerais. Um resultado expressivo que o coloca também entre os atletas que poderiam ser beneficiados com a bolsa.
Luciano Góis, Secretário Municipal de Esportes, consultado via telefone a respeito, disse que é totalmente favorável ao programa. Elencou algumas dificuldades para sua implantação já em 2022, pois o orçamento do próximo ano não contempla recursos para esse fim. Sasá, como é conhecido entre os esportistas, garantiu que uma nova reunião com o Chefe do Executivo será realizada para tratar do assunto e que fará todo o empenho para que ainda nesta gestão o Bolsa Atleta Municipal seja implantado.
Nelson Ferreira parou de trabalhar pelo menos seis vezes durante a pandemia. Além das questões que envolvem o distanciamento social decretado pelas autoridades sanitárias, pesou também o fato de que ele vinha utilizando espaços públicos para os treinamentos.
“O meu trabalho é realizado em áreas públicas. No estádio municipal Mané Garrincha, no Módulo Esportivo ou na Vila Olímpica e nas praças e esses espaços foram fechados para qualquer atividade”.
Ele lamenta que dos mais de 30 atletas que vinham treinando regularmente dois terços abandonaram de vez os seus sonhos e os 10 que restaram foram retirados dos treinos pelos próprios pais que temiam pela saúde dos adolescentes.
Nelson Carlos Ferreira Júnior é professor de Educação Física optou por interromper os treinamentos neste momento e fazer uma completa reestruturação. O retorno das atividades se dará através do Instituto Nelson Ferreira – entidade sem fins lucrativos –, que deve gerenciar todo o programa de pessoal e treinamentos. Lanche, uniforme e material de treinamento devem fazer parte dos itens que serão disponibilizados aos alunos/atletas.
“A ideia do instituto é somar com o esporte em Tangará da Serra. A gente sabe que a Secretaria de Esportes não consegue chegar em todos os bairros, atender a toda demanda. Gostaria de ressaltar que nós não vamos atender apenas o atletismo. Nós vamos trabalhar o futsal, o basquete e o badminton. Isso já está definido, pois temos os professores e colaboradores definidos. Contudo, nada impede que passemos a trabalhar também com outras modalidades. O próprio CrossFit que nós trabalhamos aqui deve ser estendido aos bairros”.