Diário da Serra
Diário da Serra

Salomão Fernandes Ferreira Piovesan – Um símbolo de dedicação, comprometimento, amor e responsabilidade

Alexandre Rolim / Especial DS 05/08/2022 Memória

Seu legado foi viver intensamente, sempre com humildade e mansidão, amando, respeitando e se dedicando a fazer o bem

Salomão Fernandes Ferreira Piovesan

Salomão Fernandes Ferreira Piovesan: Um símbolo de dedicação, comprometimento, amor e responsabilidade

A história/homenagem de hoje é ao mesmo tempo intensa, sublime e emocionante. O multifacetado Salomão Fernandes Ferreira Piovesan pode ser descrito de várias formas, a depender do ângulo que cada pessoa entrevistada o descreve. Seja como irmão, filho, amigo, como colega de trabalho ou companheiro, as mesmas peculiaridades, as mesmas qualidades e os mesmos adjetivos se repetem, sempre carregados de orgulho, amabilidade e saudade.

Filho de Lizonita Fernandes Ferreira e Djalma Joaquim Antônio Ferreira, irmão mais novo de Eudes Vinícius e Eunice, Salomão nasceu em Iporá (GO) no dia 15 de julho de 1986. A irmã, Eunice, relata com tristeza que esse foi o dia do nascimento de Salomão e o dia da morte de sua mãe, durante o parto.

“Nossa mãe faleceu durante o parto”,

conta.

A mãe de Salomão que faleceu no partoApós a morte da mãe, nos primeiros três meses de vida, Salomão foi acolhido pelos tios Anésio Inácio da Silva e Terezinha Fernades da Silva. Em seguida, a tia paterna e madrinha, Divina, passou a morar com a família com o objetivo de cuidar dos filhos pequenos de Djalma, principalmente do pequeno Salomão, que era recém-nascido.

“A partir de então ela assumiu a figura e amor materno na vida de todos nós, mas principalmente para Salomão, tanto que em seu casamento ela entrou com ele, como se fosse sua mãe”,

relata.

O pai e a tia Divina descrevem Salomão como um filho amável, obediente, responsável e muito cuidadoso.

“Da infância me lembro de poucas coisas do Salomão, mas um de nossos programas favoritos era ir pra Chácara do Tio Beraldino aos finais de semana e enquanto criança ele passava uns dias na casa da Tia Divina em Iporá durante as férias escolares”.

Salomão e a irmã EuniceOito anos mais velha que Salomão, Eunice conta que o pai possuía um supermercado na cidade de Diorama (GO), o Supermercado Beija-Flor, onde eles viveram a infância e a juventude.

“A família toda trabalhava no supermercado e executávamos qualquer tarefa que fosse necessária: limpeza, caixa, reposição de mercadorias e empacotamento, (...) entrega em domicílio, à época levando tudo numa bicicleta cargueira. (...)”.

Salomão com a amiga NiuellenOs amigos de Salomão, Niuellen e Eder, relatam que Seu Djalma criou os filhos sempre em contato com os valores cristãos da Igreja Católica, onde até hoje ocupa o cargo de diácono. Salomão foi coroinha e auxiliava o padre nas celebrações das missas.

 


A faculdade de Química e a carreira militar

Quando Salomão tinha 14 anos, Eunice se mudou e os encontros passaram a ser menos rotineiros.

“Não me recordo ao certo quantos anos ele tinha quando se mudou para Cuiabá para fazer faculdade, mas era por volta de dezessete anos”,

conta. 

Salomão na formatura da faculdade de Química na UFMTSalomão cursou Química na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), onde residiu com uma tia e depois com colegas de faculdade. Trabalhou como cobrador de micro-ônibus e depois passou a dar aulas particulares, enquanto concluía o curso universitário. Logo em seguida, prestou vestibular para o Curso de Formação de Oficiais da Polícia Militar do Mato Grosso, onde obteve a primeira colocação e por três anos fez o curso, se dedicando integralmente à Corporação que ingressou em fevereiro de 2009.

“Não falávamos muito de sonhos ou de projetos e até mesmo da carreira militar, mas vivíamos o momento e procurávamos estar juntos sempre que podíamos, principalmente nos eventos mais importantes como suas formaturas e casamento”,
conta a irmã.

Salomão em foto da carreira militarEm sua carreira como oficial sempre manteve posição de destaque. Encerrou o curso de formação de oficiais em segundo lugar geral e em primeiro lugar do Estado de Mato Grosso. Assumiu lugar de destaque em sua formatura militar. Trabalhou inicialmente no 4º Batalhão de Polícia Militar na cidade de Várzea Grande, onde permaneceu de setembro de 2011 a janeiro de 2013, quando foi transferido para o Comando Regional VII, em Tangará da Serra


Menino prodígio, Salomão era o orgulho da família

A irmã de Salomão conta que ele sempre deu muito orgulho a eles, descrevendo-o como um homem responsável, humilde, íntegro, estudioso, amável, otimista, alegre, carinhoso, gostava de estar com sua família e amigos. Por onde quer que passasse levava sua alegria e conquistava as pessoas. 

“Nunca o vi reclamar de nada, ele me contava poucas coisas da carreira, que por vezes são difíceis no aspecto físico e psicológico, porém nunca era reclamando, mas no sentido de “Vim e Venci”, pois desistir não era coisa pra ele, pois desde o nascimento sua vida foi de luta e vitórias”.

Mesmo tendo uma carreira breve, Salomão conquistou respeito e admiração de todos que com ele trabalharam.

“Ele primava por prestar um trabalho de excelência e demonstrando seus princípios cristãos, pois seus colegas dizem que ele sempre era o pacificador da turma e que ao iniciar suas atividades convidava todos a fazer uma oração para que o serviço fosse abençoado”.


O pedido de casamento e a aliança de linha de pipa

Salomão conheceu Taynah e poucos meses depois a levou para Diorama (GO) para conhecer a família. Nesta ocasião ele a pediu em casamento de uma maneira bem peculiar, com uma aliança bastante original, confeccionada por ele mesmo com linha de soltar pipa. Alguns meses depois se casaram e viveram intensamente esta união até o último momento, sempre fazendo planos de formarem uma família com filhos.

“Era visível a paixão da Taynah por ele, pois ela torcia pra ele jogando videogame como se fosse uma final de jogo do Brasil numa Copa do Mundo, era muito engraçado de ver e acho que foi um dos motivos dele se apaixonar e querer se casar tão rápido, provavelmente ele nunca tinha sentido tanta demonstração de amor e cuidado”,

relata a irmã.


“Me honrou até o último suspiro”: um relato da esposa

“Minha vida mudou completamente quando no dia 26 de fevereiro de 2010 conheci esse grande homem que em poucos meses seria o meu esposo”,

fala Taynah Piovesan, viúva de Salomão.

“Falar do Salomão para mim é resgatar em minha alma sua alegria, sua persistência, sua inteligência, sua dedicação, sua integridade, sua doçura, sua sabedoria, sua paciência, sua responsabilidade, seu amor ao próximo e seu amor a Deus”,

continua. 

Apenas nove meses após se conhecerem eles já estavam casados.

“Homem que me honrou até o último suspiro”,

comenta Taynah,

relatando que Salomão preservava as verdadeiras amizades, era observador, reservado e brincalhão.

“Amava os seus, amava sua família e honrava a história de sua família”.

Ela conta ainda que Salomão amava o estado de Goiás e suas tradições, dentre elas a boa gastronomia goiana, como um frango caipira com gueroba e pequi. 


Salomão queria ser pai

Palmeirense de alma e coração, Salomão fazia muitos planos. Queria se tornar piloto de avião da PM/MT e almejava chegar ao posto de Oficial Superior (coronel) da Corporação.

“Sonhava também em ser pai e dizia que nosso filho seria o Filho da Copa, pois planejávamos engravidar em 2014, ano da copa no Brasil. Dizia que o filho seria do sexo masculino e se chamaria Davi. Na bíblia Davi era pai de Salomão e em nossas vidas Salomão seria o pai de Davi”,

conta Taynah.  


O relato de uma amiga: Gleicinha

Gleicelene Freitas, carinhosamente chamada de Gleicinha, amiga de Salomão desde a infância, fala dele com entusiasmo.

“Esse garoto foi meu amigo de verdade, amigo mesmo, meu irmão de coração, com quem eu contei e contaria em todo momento. Muito brincalhão, mas sempre verdadeiro, digo verdadeiro na essência porque em suas histórias, nem sempre podíamos acreditar”,
conta, rindo.

Ela destaca a inteligência de Salomão e o define como ‘moleque marrento’.

“Me lembro dele com uns 9 anos entregando jornal pela cidade, ele não só entregava, ele lia, fala sério, que criança lê jornal? Pois ele dava pelo menos uma folheada. Só de ser entregador quando criança, daria pra saber que seria um homem trabalhador, se virava nas oportunidades que tinha, e quando não tinha, as fazia”,

relata a amiga.

“Um amigo sempre parceiro, gostava de festa, de dançar, de futebol, topava todas as paradas. Foram muitos momentos divertidos juntos, carnavais, festa de cidade, formatura. Mas o que gostávamos mesmo era de estar juntos, quando não tinha festa, estávamos nós na porta da casa de algum, reunidos e jogando conversa fora. E como era bom conversar com ele, o sentimento que tenho hoje é que de tudo ele sabia uma pouco”,

continua a amiga.

“Não consigo falar dele no passado, para mim ele está lá no céu e continua do mesmo jeito, alegre, extrovertido, responsável, brincalhão, torcendo e vibrando com o Palmeiras. Me parece que o Salomão já nasceu sabendo como viver a vida, amou as pessoas como elas eram, fez sempre seu melhor e aproveitou todos os minutos. Seu legado, ele mesmo escolheu citar, tá lá em 2 Timóteo 4:7-8, vão lá, leiam e sigam”,

conclui a amiga.


Relato dos amigos Edinha e Niuzinha

Os amigos Eder e Niuellen, os quais Salomão chamava carinhosamente de Edinha e Niuzinha, também deixam um relato emocionante sobre ele. Contam que quando tinha cerca de 11 anos, Salomão conciliava os estudos, as tarefas do supermercado e acumulava mais uma responsabilidade: buscava todos os dias de manhã o jornal “O Popular” da cidade, que chegava por meio do ônibus da empresa “Maia”. Era ele quem entregava os jornais aos seus assinantes.

“Uma curiosidade dessa época era vê-lo se interessando pela leitura e sempre que se ia ao supermercado estava lá o Salomão lendo as notícias de política, os quadrinhos e o esporte do jornal. Palmeirense de coração, gostava de futebol e quando ia jogar com os amigos era a lateral esquerda que ocupava no campo, canhoto que era. Nunca teve habilidades para ser um boleiro profissional, mas sempre tinha muita vontade de ganhar quando o assunto era disputa, como tudo na sua vida, principalmente quando se ia jogando apostado Coca-Cola”,

contam. 

Eles contam que Salomão se destacava quando o assunto era namorar.

“Seus olhos verdes, cabelos pretos, lisos, penteados ao meio e dono de um sorriso cativante, além de ser muito espirituoso e bem-humorado, chamava a atenção das meninas, em que nem fazia muito esforço para conquistá-las. Brincávamos entre nós amigos que ele era nosso ‘Thiago Lacerda’”,

relatam os amigos.

“Uma lembrança que guardamos com carinho é quando íamos ao supermercado pra gente conversarmos e sentávamos num banco de madeira que ficava do lado de fora, as vezes a conversa se prolongava e o atrapalhava nos afazeres do supermercado e logo o Eudes chamava sua atenção.  O cliente fazia as compras e era necessário entregar em sua residência. Então para que o assunto não parasse ele dizia: - Vamos lá comigo. Então na ida ele colocava as compras na bicicleta cargueira e ia de carona na garupa e na volta gostava de andar no suporte cargueiro da bicicleta, que era pra dar mais emoção e a gente avacalhar um pouco”,

contam. 


A morte prematura e as homenagens

Salomão morreu de uma maneira trágica no dia 1º de julho de 2013. Na noite anterior, por volta das 21 horas, ele estava em casa com a esposa quando ocorreu um estupro em uma casa em construção na vizinhança. Ele foi até o local com o intuito de verificar a situação quando se deparou com um homem armado, os dois trocaram tiros e ele foi atingido no pulmão. O homem era um policial penal que havia ido até lá com o mesmo objetivo: socorrer a possível vítima de estupro. O policial foi ferido na perna. Poucas horas depois, à 0h50, Salomão faleceu no hospital.

Gleicinha: “Naquela dor profunda, perguntar a Deus o porquê daquilo, porque tirar de mim o meu melhor no dia do meu aniversário? (…) A nomeação da Escola Militar em sua homenagem faz com que nosso orgulho só não seja maior que a nossa saudade”.

Eunice: “À época de sua morte faltava pouco mais de um mês para meu primogênito nascer e meu esposo sugeriu que colocássemos o nome dele [Salomão] em nosso filho, porém naquele momento a dor era muito latente e eu não suportaria, mas depois tive outro filho e escolhemos o nome de Salomão para homenagear meu irmão, que merece todas as honras e homenagens possíveis”. 

Taynah: “Salomão honrou até seu último suspiro o juramento que fez em sua formatura militar: servir e proteger mesmo com o risco da própria vida. Como sua morte prematura impactou a todos! Sua ida virou notícia em vários sites e noticiários. Dentro de nós restou um vazio imenso e uma saudade inesgotável”. 

Eder e Niuellen: “Você se foi e ficou um vazio, uma ruptura na linha do tempo, uma saudade de tudo que passamos juntos, as coisas simples da vida, as brincadeiras, as risadas, os abraços (…)”.

Em fevereiro de 2021, a Secretaria de Estado de Educação (Seduc-MT), sob a regulamentação da Lei estadual 11.273, de 18 de dezembro de 2020, nomeou a recém-criada Escola Militar Tiradentes, em Tangará da Serra, como: Escola Estadual Tiradentes 1º Tenente PM Salomão Fernandes Ferreira Piovesan.

“Ficamos extremamente honrados com a escolha de seu nome para a Escola Tiradentes e acredito que tal decisão foi muito acertada, devido à sua devoção à Segurança Pública e também ao seu histórico de valorização da educação e dos estudos. Nos sentimos confortados com este reconhecimento, pois vimos que sua dedicação e devoção não foram em vão e serão reconhecidas por várias gerações”,

destaca a irmã, Eunice. 

Além do nome à Escola Militar, Salomão também foi homenageado, em 2015, como patrono do Dojô (local de treino de artes marciais) da Academia de Polícia Militar Costa Verde, localizada em Várzea Grande, local onde são formados os oficiais da Polícia Militar de Mato Grosso.



Diário da Serra

Notícias da editoria