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CADEIRA DE FIO

Lévender Mattos 25/09/2020 Artigos

Crescer. Mudar. Voltar. Ciclo. Início, meio e fim. O mesmo endereço continua aqui. Eu não. A gente cresce e muda, e não é só de endereço

Artigo 'CADEIRA DE FIO'

Antes daqui eu não me lembro se houve outro endereço, quando chegamos aqui a seleção ainda não era tetra campeã mundial, a moeda não era o Real, e eu era bem menor do que sou hoje, as casas do bairro eram todas iguais e me confundiam muito, não haviam muros entre uma casa e outra, todas as paredes eram brancas e as ruas de terra, a gente não tinha nenhum animal de estimação.


No último final de semana eu estava no mesmo endereço, o endereço é o mesmo, mas tudo está diferente, as casas, a rua, as paredes, parte dos vizinhos também continuam os mesmos, lembro que naquela época meus pais eram bem mais intensos, e eu também, mas agora eles são avós e não pais, os papeis se inverteram, mas ver meus filhos criando lembranças no mesmo endereço que me lembro de tanta coisa é no mínimo nostálgico.


Crescer. Mudar. Voltar. Ciclo. Início, meio e fim. O mesmo endereço continua aqui. Eu não. A gente cresce e muda, e não é só de endereço.


Sobre ser pai, foi nesse endereço que apreendi.


Antes de voltar para casa disse ao meu pai para escrever algumas passagens para mim, e que precisava que ele assinasse depois - ele é analógico e nada digital, pra gente ler junto quando eu voltasse pro “endereço” sabe, minha antiga casa. Nada de compromisso, nada sério, só coisa minha e para mim. De vez em quando eu fico meio sem "ideias" e preciso de conteúdo, essa é sem dúvida a minha melhor fonte.


Essa foto minha mãe me enviou em um fim de tarde há alguns dias atrás, disse que ele estava "treinando" na porta de casa o que eu havia pedido, o que escrever e como assinar, meu velho na mesma calçada e endereço da minha infância.


Foto conceito, a cadeira de fio, a porta de casa, a caneta na mão, os óculos sobre os papéis, os poucos cabelos brancos e a cara de sério.


Sobre fazer bem feito, sobre comprometimento, sobre treinar antes de executar, sobre foco e principalmente sobre resultados, ele fez por instinto, mas me ensinou tudo isso, e pelo que vejo, ainda ensina.


Essa foto salvou meu dia, obrigado mãe, e obrigado pai.


Por que e como? Por vezes o que a gente faz quando ninguém está vendo diz muito sobre como somos de verdade, 'ditado de velho (adaptado)': “faça o que eu digo, mas principalmente faça melhor do que e como eu faço”. Eu tento.


Sobre ficar velho, sobre família, sobre ditados de velho, sobre ficar velho. Sobre ser pai, até quando ninguém está vendo, ou no meu caso, lendo.

 

Lévender Mattos – Filho do seu Levino. Pai do Gabriel, do Enzo e do Théo. Casado com Patrícia Fernanda “Fada”. Escreve como passatempo e terapia, e quando sobra tempo. Ainda não tem uma cadeira de fio. IG @levender_mattos. Idealizador da página @paiterapia.



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