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RODNEY GARCIA – Professor aplica questionário em alunos para diagnóstico da educação na pandemia

Redação DS 15/03/2021 Educação

Questionário foi aplicado nos 270 alunos dos anos finais na Gentila

Rodney Garcia, professor na Escola Gentila Susin Muraro

Professor aplica questionário em alunos para diagnóstico da educação na pandemia

Esta semana falaremos sobre a educação – o ensino escolar – em tempo de pandemia. Diferente do que muitos imaginaram em março de 2020, a Covid-19 não foi um evento passageiro; evoluiu para uma quase calamidade, beirando ao colapso dos serviços de saúde, ceifando vidas e deixando sequelas aos infectados que sobreviveram. A sociedade, as relações sociais, as profissões tiveram que se adaptar. Novas atitudes e novos valores foram exigidos pelos organismos de saúde coletiva para evitar uma catástrofe ainda maior.


Um dos setores mais atingidos pelos efeitos da pandemia foi o da educação. Professores, alunos e familiares se viram em uma encruzilhada: como ensinar – aprender – em tempos de pandemia? Brigo para que as aulas voltem ou torço para a pandemia acabar? Outros questionamentos, tanto de educadores quanto de familiares giraram entorno do ensino e da aprendizagem: No ensino à distância – híbrido, online, apostilado – a aprendizagem acontece? Como meu filho estuda? Como ele aprende? Por que meu filho apresenta dificuldade em leitura, escrita, interpretação e operações matemáticas? Por sua vez, o professor se pergunta: o estudante dedica quanto tempo aos estudos? Todas às famílias têm acesso às tecnologias para assistir às web-aulas, acessar links, responder às atividades no google sala de aula? Como explicar um determinado conceito, um raciocínio, através de um vídeo ou de um texto? Como estimular a criação e a criatividade, considerando a atual situação de incertezas?  Como crianças e adolescentes estão reagindo ao confinamento, com o medo da morte? Como reagem a necessidade do movimento, do toque, da convivência social, dos grupos? O que pensam? O que sentem? O que fazem?


Com base nestes e outros questionamentos, Rodney Garcia, professor no Centro Municipal de Ensino Gentila Susin Muraro, em Tangará da Serra, elaborou um questionário socioeconômico e emocional para identificar o perfil das turmas do 6º ao 9º do ensino fundamental. Segundo ele, o questionário pretendeu identificar a faixa etária, tamanho da residência, pessoas no mercado de trabalho – formal ou informal –; relações familiares; ocupação do tempo; percepções, sentimentos e emoções em tempo de pandemia.


O questionário foi organizado entorno de questões abertas e fechadas. Mas, mais que respostas objetivas ou subjetivas, lembra o entrevistado, o mesmo fora pensado em diálogo com as competências gerais da educação básica, de modo a contribuir para que o estudante compreenda e ou perceba seus sentimentos, suas emoções e as coisas que lhe foram retiradas, não oportunizadas, em tempo de pandemia.


“O questionário foi o guia orientativo para a produção de texto. Não se tratava de qualquer texto. Eu pretendia que a pessoa, a primeira pessoa, expressasse seus sentimentos, suas emoções, suas percepções sobre o momento vivido. Mais que isso, que o estudante pudesse expressar, revelar-se a si mesmo. Parece ambíguo “revelar-se a si mesmo.” Mas, não é. Através das orientações sobre a construção do texto, muitos estudantes revelaram medos, dores, perdas, angústias, expectativas e faltas”, conta, ao revelar que nas respostas e nas produções de textos, percebeu muitos adolescentes apreensivos, chateados em decorrência do confinamento; desejosos de convivência escolar e social.


GENTILA MURARO – Produções revelaram esforço, empenho, esperança e até pedido de ajuda

Dos quase 270 alunos matriculados nos anos finais, aproximadamente 50% produziu o texto.


“A maioria admite que estudar em casa é complicado. E esse sentimento é legítimo, pois, em casa, antes dos estudos, vem os afazeres domésticos, os cuidados com irmãos, sobrinhos e, em alguns casos, até de avós. Além dos cuidados com a casa afazeres, os momentos de distração giram entorno das redes sociais, para os que tem acesso à internet, TV e, em alguns casos, brincadeiras com amigos. Houve respostas preocupantes, como o do tipo: tenho medo das coisas que penso”, revela.

Abertura ano letivo 2020
Para além dos números, fora observado esforço, empenho, esperança. E até pedido de ajuda. “Observamos em alguns textos manifestações do tipo “pensei em fazer uma besteira,” “Para mim está sendo muito difícil!” “Tenho medo de perder meus familiares,” “Meus irmãos e eu brigamos muito.” Vi a esperança na ciência, quando muitos adolescentes pediam pela vacinação em massa. Houve muitas manifestações religiosas, do tipo “Se Deus quiser”.


Das produções lidas, o professor revela ainda que quatro chamaram a atenção. São três textos de estudantes do 8º ano e um do 7º ano. “Esses quatro estudantes surpreenderam pela qualidade das produções. Talvez, necessitando expressar, verbalizar, materializaram em suas produções os fantasmas e as esperanças que povoam o universo adolescente neste tempo de incertezas”.

Professor Rodney Garcia

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