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Álcool no pão de forma e um condutor sobriamente embriagado

Gregório José 16/07/2024 Artigos

Nossos pães de forma estão mais para fermentados de trigo do que para aquele pãozinho inocente que imaginamos

Álcool no pão de forma e um condutor sobriamente embriagado

Se Millôr Fernandes estivesse entre nós, certamente teria um campo vasto para explorar a ironia e a hipocrisia de nossos tempos. Imaginemos, então, uma cena tragicômica que poderia perfeitamente se encaixar em um de seus textos: um cidadão, abstêmio convicto, sendo preso, multado e tendo seu carro apreendido por ter consumido um inocente pão de forma.

Nossa história começa com João Sobriano, um homem que nunca bebeu uma gota de álcool em sua vida. Seu pecado? Um desejo insaciável por uma fatia de pão no café da manhã. Pois bem, João, na sua inocência matinal, decide comprar um pão de forma de uma dessas marcas renomadas – Visconti, Bauducco, ou talvez Wickbold, quem se importa? O que ele não sabia é que estava prestes a embarcar numa jornada etílica sem sequer ter saboreado uma gota de cachaça.

Imagine a cena: João, de barriga cheia de pão, é parado numa blitz. O guarda, munido de seu bafômetro, ordena: “Sopre aqui, por favor.” João, seguro de sua sobriedade, obedece. O resultado? Um número astronômico, digno de uma noite de festa no boteco. Estupefato, João tenta explicar: “Mas eu só comi pão!” O guarda, com um sorriso maroto, rebate: “É o que todos dizem.”

A pesquisa da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste) revela a verdade crua: nossos pães de forma estão mais para fermentados de trigo do que para aquele pãozinho inocente que imaginamos. Com teores alcoólicos que fariam inveja a um vinho fraco, algumas marcas ultrapassam o 0,5% de álcool. Visconti, liderando a parada com 3,37%, faz pensar se não deveríamos começar a envelhecer nossos pães em barris de carvalho.

João agora se encontra em uma situação paradoxal: sua vida de abstêmio o levou a ser tratado como um infrator da lei seca. Multado, sem carro, e com a reputação arranhada, ele pondera se o próximo passo seria uma reunião dos Padeiros Anônimos. Afinal, quem diria que um pão de forma poderia causar tanto estrago?

A moral desta história, meus caros leitores, é que vivemos em um mundo onde as aparências enganam e a realidade muitas vezes ultrapassa a ficção. Enquanto discutimos as complexidades do teor alcoólico do pão, esquecemos de questionar o que realmente importa: a transparência, a informação correta ao consumidor, e a prevenção de situações absurdas como a de João Sobriano.

Como Millôr diria: “se tudo parece estar indo bem, você obviamente se esqueceu de algo.” E, neste caso, talvez devêssemos prestar mais atenção ao que estamos realmente consumindo no café da manhã. Afinal, ninguém quer ser preso por comer pão, não é mesmo?


Gregório José
Jornalista/Radialista/Filósofo
Pós Graduado em Gestão 
Escolar Pós Graduado em Ciências Políticas
Pós Graduado em Mediação e Conciliação
MBA em Gestão Pública

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