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MEMÓRIA PIONEIROS – Aurora Gianotto Girotto a centenária que sempre incentivou o voo dos seus

Rosi Oliveira / Especial DS 21/11/2024 Memória

Aurora Gianotto Girotto fez 100 anos e tem diversas histórias que deixará para a posteridade

Aurora nasceu em 15 de novembro de 1924, em Olímpia

Aurora Gianotto Girotto a centenária que sempre incentivou o voo dos seus

Sonho de muitos, chegar à longevidade e ter histórias para contar. Aurora Gianotto Girotto conseguiu os dois, fez 100 anos e tem diversas histórias que deixará para a posteridade, marcadas na família imensa que construiu ao lado de Afonso Girotto, que até esse momento totaliza quatro filhos, nove netos, nove bisnetos, dois tataranetos, mais as noras e as cuidadoras que são sua família também.

Reunidos na sala da casa da mãe, os filhos que fizeram a festa de 100 anos na última sexta-feira, 15 de novembro, para celebrar o centenário da matriarca, narram a vida da mãe que tem o nome de uma deusa que nas histórias romanas renovava-se todas as manhãs quando ao amanhecer voava pelos céus anunciando a chegada do novo dia. O nome cai bem, uma vez que Aurora Girotto continua se levantando com 100 anos todas as manhãs e com sorriso de boneca, faz filhos e quem está sua volta sorrir e agradecerem por poderem gozar de sua companhia.

Nascida em 15 de novembro de 1924 em Olímpia, São Paulo, era filha de João Batista Gianotto e dona Rosa Piovanna Gianotto, que lidavam na terra na cultura do café. Terceira filha do casal, tem como irmãos Dezolina, Páscoa, Ester, Neuza, Angelin, Nadalin, Pedro e Toni. Estudou até a quarta série e sempre ajudou os pais na lida, não escolhendo ou fugindo do trabalho que não tinha nada de leve. A família trabalhava muito para conseguir se manter e eram raros os momentos de folga que eram aproveitados por Aurora para dançar, seu passatempo preferido. Numa dessas festas de comunidade ou igreja, dizem os filhos que não sabem precisar, conheceu Afonso Girotto, que tinha a mesma idade, com quem se casou aos 18 anos.

Após o casamento, o casal se muda para a casa dos sogros e passa a viver com cerca de 15 pessoas, uma vez que a tradição da época era de manter as famílias unidas, o que lhe rendeu uma integração imensa com a família do esposo. O contato fez com que surgisse uma amizade fora do normal entre Aurora e os parentes do esposo, principalmente, entre as concunhadas.

Tudo na casa era feito em conjunto e ali Aurora acabou por se tornar a costureira oficial da família.

“Minha avó comprava aquelas peças de tecido e ela fazia roupa para todos”,

conta a filha Maria de Lurdes Girotto, a Lurdinha, como é carinhosamente tratada.

Ali engravidou logo em seguida ao casamento e nasce João Girotto, primeiro filho.

Depois de um tempo, Aurora e o esposo recebem de presente Maria de Lurdes Girotto e quando a pequena fez cinco meses e João três anos, a família adquire terras em Colorado, no Paraná, e, para lá muda-se. A compra foi realizada no ‘fio do bigode’, como se dizia antigamente, na palavra e, portanto, a família não sabia bem o que iria encontrar, mas foi informada que casa havia.

“Eles foram num pau de arara e fomos com promessa que tinha casa para morar, mas não tinha, e ficamos morando em cima do caminhão”,

narra Lurdinha.

Por meses a família e os irmãos do esposo e suas famílias moraram numa ‘tulha’ (espécie de celeiro, paiol, galpão), até que as casas de cada um fossem construídas.

“Ali faziam a comida no fogareiro de chão”,

narra Agnaldo Márcio Girotto, o filho caçula que chegou depois de Edna Aparecida Girotto.

Ali os filhos, que já eram quatro, estudavam na escola rural e quando voltavam iam para a roça com a mãe que ficava em casa com as mulheres cuidando da roupa, comida e depois de tudo pronto, saíam com as panelas para levar a ‘bóia’ para os esposos e ali cada uma pegava a enxada e ajudava na lida.

“Quando o Agnaldo nasceu ela colocava ele embaixo dos pés de café e um de nós ficava cuidando para nenhum bicho morder ele”,

lembra Edna.

Depois de um tempo a família vê a necessidade de mudar-se para a cidade por causa dos estudos dos filhos e Aurora passa a cuidar da casa e dos filhos, sempre na costura e na confecção de crochê, um de seus maiores amores.

DONA AURORA, MULHER FORTE E ESTEIO DA CASA

A primeira a se casar foi Lurdinha e o esposo estava em busca de terras para comprar. Para conhecer, se desloca com mais alguns homens para o Pará e chegam em época de muita chuva, mas retornam tempos depois, quando contemplam a seca do lugar. Por esse motivo, se deslocam para o Mato Grosso, mais especificamente para Tangará da Serra, onde compram terras por verem o estado e a cidade como promissora.

Lurdinha muda-se com o esposo em 1975 para Tangará da Serra e Aurora e o esposo ficam no Paraná com os outros filhos. Pouco tempo depois, João Girotto, já casado, muda-se para perto da irmã. No ano de 1980, o esposo de Lurdinha falece em um acidente aéreo e ela retorna ao Paraná com os filhos por pedidos insistentes dos pais. Nessa época, o irmão João Girotto fica encarregado dos bens da irmã e do pai que havia comprado terras com o genro.

Em 1994 Aurora e o esposo vem para Tangará da Serra e fixam moradia em uma casa em frente à Chico Refrigeração, mas a mudança para ela não foi recebida de forma nada agradável.

“Ela não queria vir, veio contrariada porque minha mãe amava meu pai e era totalmente submissa”,

narra uma das filhas.

“Ela era católica fervorosa e morava lá ao lado da igreja e aqui não conhecia ninguém e se sentia sozinha, além de estar longe da família, principalmente das cunhadas que aprendeu a amar como irmãs”,

contam.

Os dias seguiram e Aurora começou a fazer novas amizades, como Tudi, mãe da nora Maria do Carmo, com quem construiu uma parceria de sucesso.

“Ela sofreu no dia que meu avô morreu, mas no dia que a dona Tudi partiu ela sentiu mais”,

conta a neta, Ingrid.

Aqui, fez amizades imensas e intensas e participava do apostolado. Contribuía em orações e visitações e continuava com seu crochê amigo que somente abandonou após a Chikungunya.

Além da participação em atividades da igreja, se envolveu na criação dos netos, sendo um suporte gigante.

“A mãe é uma guerreira, muito trabalhadeira e que sempre foi nosso alicerce”.

Para os filhos, dona Aurora é o esteio da casa, uma mulher que não voou tão alto, mas que mesmo do chão conseguia ver alto. Com isso, incentivou o voo dos filhos e filhas de quem era a confidente e aquela que sempre tinha uma palavra amiga, fosse de amor ou chamada de atenção.

Aurora sempre impulsionou os filhos e estava por trás como base, para caso fosse necessário. Em agradecimento a mulher forte que criou descendentes da mesma forma, os filhos e filhas realizaram a festa do centenário de Aurora Gianotto Girotto no dia 15 último.



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