Essa dor de perder um filho na gestação, seja nos primeiros meses ou mais adiante, carrega em si uma mistura de esperança, expectativa, amor, vazio
Há dores que o mundo insiste em calar. A DOR GESTACIONAL é uma delas: silenciosa, invisível, mas devastadora. Muitas mães ouvem frases como “foi só um embrião” ou “logo vem outro”. Palavras que, em vez de consolar, cortam ainda mais fundo, porque diminuem a dor como se ela fosse menor, como se não fosse real. É como se o luto da gestação não tivesse direito a existir, como se fosse um incômodo a ser rapidamente esquecido.
Essa dor de perder um filho na gestação, seja nos primeiros meses ou mais adiante, carrega em si uma mistura de esperança, expectativa, amor, vazio. É uma dor dupla: a perda física e o luto daquilo que poderia ter sido. E a sociedade, muitas vezes, acusa: exige “segue em frente”, “não fique remoendo”. Mas esse “seguir” não cura. A dor fica marcada no corpo, nas lembranças, no desejo interrompido de ser mãe em toda sua forma.
Na clínica, já vi mulheres aterrorizadas pela culpa. Lutam com pensamentos como “algo em mim falhou”, “não fui suficiente”, “não mereço chorar”. São olhares que buscam autorização para sofrer, para sentir. Nós, como sociedade, falhamos quando silenciosamente validamos que a gestação só é digna de respeito quando resulta em bebê vivo. Quando invisibilizamos o sofrimento sem reconhecimento, sem espaço para lamentar.
Gestação é promessa e vulnerabilidade. O corpo é o lar de uma vida que se espera, e quando se vai, vai junto muito do íntimo da mulher: os sonhos, os planos, até sua própria imagem transformada. E a dor gestacional não deve ser subtraída, negada ou escondida. Precisamos oferecer acolhimento sincero, escuta sensível, espaço para o luto, sem vergonha.
A dor não desaparece com o tempo, mas pode se tornar mais suportável quando se permite chorar, quando se escuta sem julgamentos, quando se reconhece que naquele vazio também existiu amor.
Se você viveu esse momento: saiba que não está sozinha. Que sua dor é digna de respeito. Que cada lágrima, cada silêncio, cada pensamento interrompido, é parte de um processo de reconstrução. Acolha-se. Permita-se viver o luto. E lembre-se: cuidar de si mesmo não é luxo, é necessidade.
Porque a vida também ensina que nascer é sofrer, mas persistir é existir, e existir é carregar algo para frente, com a alma inteira, mesmo que o peito ainda doa.