Quantas vezes, em nome da sinceridade, pais destroem a autoestima dos filhos com comparações e críticas desmedidas?
Quantas vezes você já ouviu a frase: “Prefiro ser sincero do que falso” ou “Melhor ouvir uma verdade que dói do que uma mentira bonita”? À primeira vista, parecem afirmações nobres, mas muitas vezes escondem algo perigoso: a agressividade disfarçada de sinceridade. É como se, em nome da verdade, tudo fosse permitido, mesmo ferir, humilhar ou anular o outro.
Na clínica, observo com frequência pessoas marcadas por palavras ditas sem cuidado. Verdades jogadas como pedras que deixam cicatrizes invisíveis. É preciso lembrar: sinceridade não é licença para violência. A verdade sem empatia pode ser tão cortante quanto uma navalha. O modo como falamos importa tanto quanto o conteúdo do que dizemos.
Muitos acreditam que ser direto e “sem rodeios” é sinônimo de autenticidade. Mas a autenticidade não precisa ser cruel. Existe uma grande diferença entre falar algo para ajudar e falar algo para calar, para dominar ou simplesmente “descarregar” no outro. A primeira é construtiva; a segunda, destrutiva.
Quantas vezes, em nome da sinceridade, pais destroem a autoestima dos filhos com comparações e críticas desmedidas? Quantas vezes parceiros de relacionamento justificam palavras duras dizendo: “só estou sendo honesto”? A linha que separa a verdade da violência está justamente no cuidado com o outro.
Não é sobre esconder sentimentos ou mascarar a realidade. É sobre entender que a verdade, quando atravessada por empatia, pode ser transformadora. Já quando é despejada sem sensibilidade, torna-se corrosiva. Falar a verdade é necessário, mas a forma pode ser um abraço ou uma flecha.
O desafio é este: não usar a sinceridade como escudo para justificar brutalidade. Ser verdadeiro não significa ser impiedoso. Antes de falar, é preciso se perguntar: “O que vou dizer vai ajudar ou apenas machucar?” Essa reflexão simples pode ser a diferença entre construir pontes ou levantar muros.
No fim, o que fica não é a força da palavra dita, mas o rastro que ela deixa. Podemos ser lembrados como quem feriu ou como quem acolheu. A verdade, quando envolve cuidado, pode salvar; sem ele, pode destruir silenciosamente quem mais amamos. Que escolhamos sempre o caminho que cura, porque a sinceridade só tem valor quando caminha de mãos dadas com a empatia.