Diário da Serra

Praças para convivência

Jandira Maria Pedrollo 20/08/2024 Artigos

Observo a solidão de pessoas, em especial de idosos, que, mesmo morando com familiares, pouco interagem, por esses terem suas próprias atividades

Praças para convivência

Observo e sinto “na pele” que as diversas praças públicas construídas são inadequadas para atividades como um simples bate papo, principal e mais barato lazer diário entre os idosos.

A população idosa no Brasil aumentou significativamente entre os anos censitários de 2010 e 2022, constatando-se o envelhecimento da população. Com idade igual ou superior a 60 anos, em 2022 era 15,6% da população (acréscimo de 56,0% em relação a 2010). Já a faixa até 14 anos são 19,8% da população (queda de 12,6%). Essas informações nos levam a repensar conceitos na área de urbanismo, em especial as atividades de lazer em praças públicas.

Nos bairros, quando há praças urbanizadas, frequentáveis, não há recantos propícios à convivência. A arborização é ausente ou inadequada, bancos também ausentes ou desconfortáveis e com disposição em fileiras que dificultam o entrosamento. São praças com academias de ginástica, quadras esportivas, parque infantis ou para pets. Nada contra, mas sou favorável também à existência de espaços de convivência, agradáveis, arborizados, com recantos atrativos e confortáveis para a reunião de pessoas de todas as idades e dificuldades.

Observo a solidão de pessoas, em especial de idosos, que, mesmo morando com familiares, pouco interagem, por esses terem suas próprias atividades. E assim, passam o dia, ou dias, sem ter pessoas para conversar, inclusive por falta de local adequado.

Adultos, idosos, do centro ou da periferia, gostam de trocar ideias com amigos, trocar suas experiências, em piquenique, um tereré ou mesmo uma cervejinha na praça. Para muitos, o convívio que lhes resta são as reuniões de família, em templos religiosos, onde se sentem seguros mesmo indo sós, ou em bares e restaurantes quando levados por familiares, ou outras atividades monitoradas.

Para manter a sanidade física e mental é necessário o convívio social para rir, chorar, falar sobre os problemas, as alegrias, as dores e os remédios, isso é fundamental.

As praças ditas “revitalizadas” de Cuiabá, possuem movimentação a partir das feirinhas semanais, o que é ótimo. Mas o ideal é que reuniões de amigos possam acontecer diariamente conforme a disponibilidade de cada um.

As praças de bairros atrativas proporcionam movimentação e vida ao local, o que acaba por influenciar também na segurança pública.

Para o bem estar do cidadão, em especial dos idosos, é preciso incorporar o conceito de “praça como local de encontro, de convivência e de recreação”. Praças que aproximem e reúnam pessoas por motivos culturais, econômicos, políticos ou sociais, servindo como espaço de inclusão, integração e sociabilidade na vida urbana. Praça onde possamos espichar as pernas e mesmo os olhos, uma vez que os muros das casas estão cada dia mais próximos.


Jandira Maria Pedrollo, arquiteta e urbanista, foi Diretora de Pesquisa e Informação do Instituto de Pesquisas e Desenvolvimento Urbano de Cuiabá, Assessora técnica do CAU/MT e Diretora de Planejamento da Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá.

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