O medo de parecer fraco gera um ciclo
Este é o segundo artigo da série “O homem em conflito: entre a força e o silêncio”, publicada semanalmente nesta coluna.
Na semana passada, falamos sobre o movimento Legendários e o desejo de muitos homens de “resgatar” uma masculinidade perdida. Hoje, seguimos refletindo sobre o peso de ter que provar, o tempo todo, que se é homem de verdade.
Quantos homens você conhece que vivem como se estivessem sempre em prova? Homens que não choram em público, que não pedem ajuda, que suportam dores calados e não se permitem falhar. Homens que, mesmo cansados, continuam tentando provar que são fortes o bastante. Em silêncio.
Essa exigência não vem de um único lugar. Está nas cobranças da infância, nos exemplos familiares, nas frases repetidas ao longo da vida: “homem não chora”, “homem de verdade não desiste”, “seja forte”. E quando essas mensagens se tornam regra interna, o sujeito começa a medir seu valor não por quem é, mas por quanto aguenta.
A masculinidade, então, deixa de ser uma experiência viva e plural, e se transforma em um ideal rígido, difícil de alcançar, e impossível de sustentar por muito tempo sem desgaste emocional. O resultado é um homem que vive tensionado, com medo de decepcionar, preso em um personagem que ele mesmo não sabe como abandonar.
Na clínica percebo que isso gera sofrimento profundo. Angústia, isolamento, explosões de raiva, autossabotagem. O medo de parecer fraco gera um ciclo: quanto mais o homem tenta se mostrar forte, mais se afasta da própria humanidade — e do apoio que poderia recebê-lo com amor e compreensão.
O afeto entre homens não nega a heterossexualidade; ao contrário, o reforça. Jung falava da importância de integrar o masculino e o feminino como caminho de amadurecimento. Mas muitos ainda vivem como se sentir fosse uma ameaça. E não é. Não é fraqueza se emocionar. Não é vergonha cuidar. Não é erro demonstrar medo.
É humano.
Talvez o que mais tenhamos que ensinar aos meninos de hoje não seja como se tornarem homens, mas sim como se tornarem pessoas inteiras, com permissão para sentir, falhar, levantar e recomeçar — sem precisar provar o tempo todo que são dignos de existir.
Na próxima semana, vou falar sobre o corpo masculino como armadura: quando músculos, performance e dureza escondem o que mais dói por dentro.