Diário da Serra

Pai não larga a mão

Euller Sacramento 17/09/2025 Artigos

Na clínica, vejo isso com frequência: adolescentes órfãos de pais vivos. Jovens que carregam a ferida invisível da ausência

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Recentemente, em uma conversa, ouvi de um pai separado: “Larguei mão da minha filha. Ela não quer nada da vida, não estuda, só fica no celular. Eu cansei. Quando mudar, que me procure. Do jeito que está, não dá.” Fiquei em silêncio, mas aquelas palavras ficaram ecoando em mim. Como a paternidade pode ser seletiva: quando dói, quando frustra, quando exige esforço, alguns pais simplesmente se afastam. A maternidade, na maioria das vezes, não tem essa opção. Mesmo exaustas, as mães tentam, insistem, empurram o mundo para que o filho caminhe. E, quando se sentem à beira do limite, dizem “vou te mandar para seu pai”, isso quando o pai quer receber.

Na clínica, vejo isso com frequência: adolescentes órfãos de pais vivos. Jovens que carregam a ferida invisível da ausência. A infância e a adolescência são períodos curtos e delicados; o que não for vivido e curado nessas fases acaba pesando na vida adulta. Quando o apoio esperado não vem, o mundo parece um lugar mais frio e hostil.

Sim, nossos filhos vão desobedecer, desafiar, testar limites. Vão trocar o estudo pelo celular, ignorar tarefas, errar de novo e de novo. É assim que crescem. É assim que aprendem. E, por mais difícil que seja, é assim que constroem a própria identidade. Ser pai não é um contrato que pode ser rescindido quando fica complicado. Não é uma função com horário e data de validade. É presença, mesmo quando o orgulho é ferido. É insistir quando tudo grita para desistir.

Regras precisam ser lembradas, mesmo quando quebradas. Amor precisa ser oferecido, mesmo quando recusado. Estar perto não significa aprovar tudo, mas mostrar que, mesmo diante das falhas, o vínculo permanece. Separar-se da mãe do seu filho é uma escolha entre adultos; abandonar o filho é uma ferida que ele carregará para sempre.

Pai, seu filho(a) PRECISA DE VOCÊ. Talvez ele nunca diga isso em palavras, talvez demonstre em silêncio ou até em rebeldia. Mas, no fundo, espera que você insista. Pais não largam a mão. Pais permanecem, mesmo quando é difícil. Porque desistir de um filho nunca deveria ser uma opção. Mesmo quando a vida parece pesada e os caminhos se tornam difíceis, lembre-se: desistir de um filho não cura feridas, apenas as aprofunda. A presença que você oferece hoje é a raiz que sustentará o amanhã. Amor não desiste; ele insiste, mesmo quando tudo ao redor pede para parar.    


Euller Sacramento é Psicólogo Clínico.
Instagram: @eullersacramento

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