Diário da Serra

A luta contra a “Fome” é uma vergonhosa realidade brasileira

Gregório José 08/07/2024 Artigos

Os números do quarto trimestre de 2023 são um misto agridoce

A luta contra a “Fome” é uma vergonhosa realidade brasileira

No cenário vasto e diverso do Brasil, onde o brilho do sol e a fecundidade da terra deveriam garantir a todos o direito básico de se alimentar, a cruel realidade de milhões de brasileiros sem acesso adequado à comida revela-se um escândalo social que não podemos ignorar. O mais recente levantamento do IBGE traz à tona uma radiografia perturbadora de nosso país: enquanto a proporção de domicílios em segurança alimentar cresceu, 21,6 milhões de lares ainda convivem com a fome e a insegurança alimentar.

Os números do quarto trimestre de 2023 são um misto agridoce. De um lado, 72,4% dos domicílios têm acesso regular a alimentos, um avanço significativo se comparado aos 63,3% da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018. Por outro, a fome e a insegurança alimentar, em suas várias formas, ainda assolam 27,6% das casas brasileiras, um total de 21,6 milhões de lares. Desses, 4,1% — cerca de 3,2 milhões de domicílios — enfrentam insegurança alimentar grave, onde a fome é uma realidade presente e assustadora.

As disparidades regionais são chocantes e clamam por uma reflexão profunda e ações efetivas. No Norte e Nordeste, respectivamente, apenas 60,3% e 61,2% dos domicílios estão em segurança alimentar, contrastando fortemente com os mais de 75% das regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Nessas regiões menos favorecidas, o espectro da insegurança alimentar grave atinge proporções alarmantes — 7,7% no Norte e 6,2% no Nordeste. Essa situação é um grito de socorro, uma evidência irrefutável de que o Brasil não é um país homogêneo e que a fome tem endereço certo: as regiões mais pobres e menos assistidas.

O Pará, por exemplo, lidera o ranking de estados com maior proporção de domicílios em insegurança alimentar moderada ou grave, com 20,3%. Isso significa que um em cada cinco lares paraenses não tem acesso adequado ao alimento. Em contrapartida, estados como Santa Catarina (3,1%) e Paraná (4,8%) apresentam os menores percentuais, revelando um abismo de desigualdade que deve ser endereçado urgentemente.

Mulheres e Negros são os rostos da insegurança alimentar

Os dados revelam ainda uma face trágica da insegurança alimentar: o seu impacto desproporcional sobre mulheres e negros. Em 2023, 59,4% dos domicílios em situação de insegurança alimentar eram chefiados por mulheres. A disparidade é ainda mais evidente quando observamos que a maioria dos lares afetados tem como responsáveis pessoas pretas ou pardas, representando 69,7% dos casos. Essas estatísticas não são meros números; são reflexos de uma sociedade profundamente desigual, onde a cor da pele e o gênero ainda determinam, de forma brutal, o acesso a direitos básicos.

Em um país que se orgulha de ser um dos maiores produtores de alimentos do mundo, é uma vergonha nacional que milhões ainda vivam sem a certeza de sua próxima refeição. A insegurança alimentar não é apenas uma questão de falta de comida; é um reflexo de políticas falhas, de uma economia que não consegue distribuir sua riqueza de forma justa, e de um Estado que vira as costas para os mais vulneráveis.

O aumento da segurança alimentar desde 2018 é um alento, sim, mas não pode ser motivo de complacência. Enquanto houver brasileiros que vão dormir com fome, nossa missão como nação está longe de ser cumprida. Precisamos de políticas públicas eficazes, que combatam a desigualdade e garantam o direito básico à alimentação para todos. O Brasil tem todas as condições para ser uma nação onde ninguém passa fome. Mas para isso, é essencial coragem política, compromisso social e uma mobilização que vá além dos discursos. É preciso ação. Urgentemente. Porque cada dia sem comida é um dia a mais de indignidade e sofrimento que nenhum cidadão brasileiro merece suportar.


Gregório José
Jornalista/Radialista/Filósofo
Pós Graduado em Gestão Escolar
Pós Graduado em Ciências Políticas
Pós Graduado em Mediação e Conciliação
MBA em Gestão Pública

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