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O Peso da Dor Silenciosa

Euller Sacramento 30/10/2024 Artigos

É essencial lembrar que, embora doloroso, existem outros caminhos além da morte. Esses caminhos são difíceis, mas possíveis, quando há um tratamento adequado

O Peso da Dor Silenciosa

Na última semana, uma possível morte por suicídio reacendeu o debate sobre prevenção, lembrando-nos que falar sobre suicídio é importante durante o ano inteiro, não apenas em setembro. Esse é um tema sensível, mas vital, pois impacta profundamente as pessoas, famílias e comunidades. Nos meus 15 anos de atendimento clínico, tenho acompanhado crianças (a partir de 9 anos), adolescentes, adultos e idosos (até 80 anos), que, em algum momento, pretendiam tirar a própria vida. Todos eles compartilham um denominador comum: um sofrimento extremamente intenso.

Quando quebramos um braço, gritamos, procuramos ajuda e aceitamos o tratamento imediatamente. Não hesitamos em mostrar essa dor, que é visível e compreensível para os outros. No entanto, a dor mental segue um caminho diferente. Ela não se revela facilmente e, muitas vezes, não há um motivo único e claro. Pessoas com comportamento suicida muitas vezes acreditam que essa dor — tão intensa e incapacitante — jamais passará. Para eles, enfrentar o peso de uma dor insuportável todos os dias parece um caminho interminável.

Nessas horas, quem sofre deixa de viver para, apenas, sobreviver. O ato de dormir, por exemplo, vira um pedido silencioso para não acordar no dia seguinte. Quando acordam, se lamentam de ter que encarar mais um dia de dor, e assim os dias vão se sucedendo, envoltos numa certeza de que, em algum momento, esse ciclo de sofrimento vai chegar ao fim — mesmo que, para isso, tenham que abrir a mão da própria vida. Contudo, é essencial lembrar que, embora doloroso, existem outros caminhos além da morte. Esses caminhos são difíceis, mas possíveis, quando há um tratamento adequado.

A dor na saúde mental é muitas vezes silenciosa e, por isso, perigosa. Ela se esconde atrás de sorrisos, de respostas automáticas e, muitas vezes, não grita sua dor. Isso, porém, não significa que o comportamento suicida não dê sinais: ele emite sim, ainda que discretos. É impossível prever o momento exato em que alguém pode tirar a própria vida, pois essa escolha pertence exclusivamente à pessoa.

Portanto, ao menor sinal de sofrimento emocional, procure ajuda profissional. Saiba que há opções: busque o CAPS em sua cidade, ligue para o CVV no número 188, ou entre em contato com psicólogos e psiquiatras disponíveis em sua comunidade. O caminho é difícil, mas você não precisa percorrê-lo sozinho.


Euller Sacramento é Psicólogo Clínico
Insta: @eullersacramento

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