É essencial lembrar que, embora doloroso, existem outros caminhos além da morte. Esses caminhos são difíceis, mas possíveis, quando há um tratamento adequado
Na última semana, uma possível morte por suicídio reacendeu o debate sobre prevenção, lembrando-nos que falar sobre suicídio é importante durante o ano inteiro, não apenas em setembro. Esse é um tema sensível, mas vital, pois impacta profundamente as pessoas, famílias e comunidades. Nos meus 15 anos de atendimento clínico, tenho acompanhado crianças (a partir de 9 anos), adolescentes, adultos e idosos (até 80 anos), que, em algum momento, pretendiam tirar a própria vida. Todos eles compartilham um denominador comum: um sofrimento extremamente intenso.
Quando quebramos um braço, gritamos, procuramos ajuda e aceitamos o tratamento imediatamente. Não hesitamos em mostrar essa dor, que é visível e compreensível para os outros. No entanto, a dor mental segue um caminho diferente. Ela não se revela facilmente e, muitas vezes, não há um motivo único e claro. Pessoas com comportamento suicida muitas vezes acreditam que essa dor — tão intensa e incapacitante — jamais passará. Para eles, enfrentar o peso de uma dor insuportável todos os dias parece um caminho interminável.
Nessas horas, quem sofre deixa de viver para, apenas, sobreviver. O ato de dormir, por exemplo, vira um pedido silencioso para não acordar no dia seguinte. Quando acordam, se lamentam de ter que encarar mais um dia de dor, e assim os dias vão se sucedendo, envoltos numa certeza de que, em algum momento, esse ciclo de sofrimento vai chegar ao fim — mesmo que, para isso, tenham que abrir a mão da própria vida. Contudo, é essencial lembrar que, embora doloroso, existem outros caminhos além da morte. Esses caminhos são difíceis, mas possíveis, quando há um tratamento adequado.
A dor na saúde mental é muitas vezes silenciosa e, por isso, perigosa. Ela se esconde atrás de sorrisos, de respostas automáticas e, muitas vezes, não grita sua dor. Isso, porém, não significa que o comportamento suicida não dê sinais: ele emite sim, ainda que discretos. É impossível prever o momento exato em que alguém pode tirar a própria vida, pois essa escolha pertence exclusivamente à pessoa.
Portanto, ao menor sinal de sofrimento emocional, procure ajuda profissional. Saiba que há opções: busque o CAPS em sua cidade, ligue para o CVV no número 188, ou entre em contato com psicólogos e psiquiatras disponíveis em sua comunidade. O caminho é difícil, mas você não precisa percorrê-lo sozinho.