A felicidade não é uma moeda finita. A felicidade do outro não nos rouba, ela pode nos inspirar
Neste final de semana, ao assistir o filme “Compramos um Zoológico” com minha filha, me deparei com uma cena que me fez refletir. Logo no início, uma menina de sete anos, que havia perdido a mãe recentemente, acorda durante a noite. Na casa da frente, ouve-se uma festa alegre, inquieta, ela vai até o quarto do pai e diz: “Papai, não consigo dormir, a felicidade deles é muito alta.” Essa frase me fez refletir sobre como, muitas vezes, a alegria alheia pode nos impactar de maneiras inesperadas, até mesmo nos incomodar.
Por que será que a felicidade do outro, que em teoria deveria ser neutra ou até contagiante, nos causa desconforto em certos momentos? A menina no filme não conseguia dormir porque a risada e a animação dos vizinhos confrontavam sua dor. A ausência da mãe parecia se intensificar diante do barulho da alegria dos outros. Isso me fez pensar: quantas vezes, na vida real, nos sentimos assim? Não necessariamente por estarmos de luto, mas por estarmos enfrentando nossas próprias batalhas internas.
A felicidade alheia funciona como um espelho. Ela reflete o que estamos vivendo por dentro. Quando estamos em paz, a alegria do outro nos inspira, nos conecta. Mas, quando estamos vulneráveis ou sofrendo, essa mesma alegria pode soar estridente, quase insuportável. Afinal, como aceitar o brilho do outro quando o que sentimos é escuridão?
Como ajudar uma criança – ou até a nós mesmos – a entender que a felicidade do outro não diminui a nossa? Muitas vezes, a irritação que sentimos ao ver o sucesso ou a alegria de alguém é um reflexo de algo que falta dentro de nós. Pode ser um sonho adiado, um sentimento não resolvido ou, como no caso do filme, a dor de uma perda recente.
A felicidade não é uma moeda finita. A felicidade do outro não nos rouba, ela pode nos inspirar. Mas para isso, precisamos estar dispostos a olhar para dentro de nós mesmos e acolher nossos próprios sentimentos – a dor, a inveja, o incômodo – sem julgamentos. Somente assim podemos transformá-los em aprendizado.
Atualmente, como você reage quando a felicidade do outro cruza seu caminho? Você se sente inspirado, ou se sente acordado, como a menina do filme? E, mais importante, o que isso diz sobre o momento que você está vivendo? Afinal, a felicidade é infinita – cabe a nós decidir como vamos conviver com ela, dentro e fora de nós.