Diário da Serra
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Messias Francisco dos Santos: simplicidade e sabedoria

Redação DS 28/04/2018 Memória

Messias Francisco dos Santos

Memória

Seu messias, como é conhecido, é um dos milhares de mineiros, de muitos santa-vitorienses, que dedicou sua juventude, seus conhecimentos e sua conduta proba em favor de Tangará da Serra, estado de Mato Grosso.
Nascido em 16 de outubro de 1933. Filho de sitiantes. Muito cedo conheceu as durezas da vida. Aos 12 anos estava no mundo sem pai e sem mãe, cuidando e criando os irmãos mais novos.
Ainda jovem, dedicou sua vida à agricultura e à pecuária. No auge de sua juventude, jogou bola, dançou, amansou cavalos, comprou e vendeu gado, em terras mineiras.
Parte de sua juventude, depois que os irmãos estavam encaminhados na vida – casados – transitou pelo Triângulo Mineiro, por parte de Goiás. Casou. Enviuvou-se muito jovem. Acreditou no amor, na vida; casou-se outra vez, e outra vez. Desta última, com uma viúva que tinha quatro filhos: Rodney, Eliege, Pedro e Eliana. Estes o chamam de pai, pelo carinho e cuidados que receberam desde a infância até os dias de hoje. Segundo relatos de seus filhos, aqueles que ele criou como se fossem seus: “Se todos os pais fossem iguais a ele, o mundo seria melhor, mais justo e mais fraterno”.
Vinda para Tangará da Serra
Em 1974, decidiu deixar à pacata Itaberaí, Goiás, e aventurar-se em terras mato-grossenses. No dia 06 de janeiro acampou a beira do córrego Angelim, acima da Serra Tapirapuã. Todos seus pertences estavam encima de caminhonete Ford 70. Todo seu patrimônio se resumia a algumas mobílias, ferramentas, uma caminhonete, a esposa e os quatro filhos.
Quando conseguiu subir a serra Tapirapuã trocou a caminhonete por um pedaço de chão na Gleba Canta Galo, próxima ao Distrito de Joaquim do Boche. “Ali eu vi a primeira colheita de feijão e arroz brotarem nas pias e nas bandeiras. Foi uma semana inteira de chuva. Toda colheita foi perdida. Quando a gente colhia, os compradores vinham com caminhões e levavam a safra. O dinheiro dava pra gente comprar o que a terra não dava”, falou seu Messias, entre uma lembrança e outra.

Terra em disputa

Nesta gleba, sofreu ameaças constantes de pessoas querendo tomar a terra à bala, também, nesse mesmo local, conheceu e vivenciou a solidariedade; os sitiantes, como se autodenominavam, praticavam mutirões para derrubar, queimar, encoivarar, capinar, plantar e colher. Dedicavam dois ou três dias da semana a cada propriedade e, em pouco tempo, todas as terras estavam prontas para o plantio. Seu Messias lembrou também que “nesta época, as pessoas costumavam matar porcos para o consumo de carne, para a produção de gordura e distribuíam pedaços de carne fresca aos vizinhos. Era muito bom ganhar um pedaço de carne de porco num fim do dia”.
Diante das pressões de “pistoleiros,” com constantes ameaças de morte, no ano de 1976, vendeu a terra e mudou-se para o Progressinho, na MT 358 entrada para o distrito de Joaquim do Boche; ali montou uma “venda,” um tipo de mercearia que era cuidada junto com a esposa.
Em 1976, integrou a diretoria do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Tangará da Serra, juntamente com Adão Dimas, que era o presidente e morador da Gleba Cantagalo.
Amansando mato
Em 1976, ajudou a abrir a Fazenda Japó, coordenando uma equipe de catadores de raízes, onde trabalhou em todas as etapas de desmate do cerrado. Neste ano ainda, comprou um caminhão Chevrolet D 72, que serviu para transportar peões, pessoas que desempenhavam serviços braçais.
Findando 1977, conheceu seu Getúlio Soares, Gerente da Fazenda Aliança, que o convidou para ajudar a abrir aquela propriedade. Ele topou. Entrou com a mão-de-obra em troca do cultivo da terra por três anos e, ao término do período, entregar a terra formada (plantada capim). Trabalhou nesta fazenda até 1981, onde plantou feijão, arroz e milho.
Em fevereiro de 1982, mudou-se para a vila Esmeralda, um bairro que tinha como ruas os traçados da MT 358, a hoje Rua Nove e a Avenida Lions Internacional.
Seu Messias disse “depois que vim morar na cidade, fui trabalhar na propriedade de um catarinense chamado Ari, mexendo com gado leiteiro; na verdade, eram vacas mestiças ou pé duro: uma jérsei e algumas holandesas e outras girolando. As mais bravas era as nelores”.
Ajudou a abrir fazendas que se encontram após o Sepotuba e ao pé da serra que dá acesso ao Distrito Deciolândia, “Por todas essas terras eu trabalhei”, ele lembra.
Posteriormente, foi trabalhar com João Girotto, cuidando de gado, pastagem, arrumando cerca, e tirando leite. 

Trabalho comunitário

Em 1986, veio a ser o presidente fundador da Associação Moradores da Vila Esmeralda – ASMERALDA. Lutou pela regularização fundiária dos loteamentos Vila Esmeralda I e Vila Esmeralda II, pela implantação de iluminação elétrica, água tratada e um posto de saúde daquele bairro.
Seu Messias é um homem, a exemplo de muitos, que escolheu esta terra para edificar o sonho de ver seus filhos vencerem. E ele conseguiu. Homem sem posses ou bens materiais - como declara - é conhecido e respeitado pela sua honradez, retidão e sabedoria, própria de quem se propôs a aprender com as dores e os amores da vida. Não é um homem que lamenta as perdas. É um sonhador. Contador de histórias e memórias.  Acredita que “o que é certo é certo, o que é errado é errado” e gostou muito do contato com a natureza e pessoas.
Desta forma, mais que um amansador de mato, de cavalos ou vacas, seu Messias, no auge de seus 84 anos, com quatro filhos, oito netos e um bisneto, dedicando mais da metade de sua vida a Tangará da Serra, tem como filosofia de vida: “a única coisa de valor que o homem tem é seu nome. Por isso, quando a gente fala ou promete alguma coisa, a gente tem que cumprir”. Hoje, encontra-se com a saúde bastante fragilizada.
Como reconhecimento aos serviços relevantes prestados ao município, seu Messias recebeu, em 2014, da Câmara Municipal, o título de Cidadão Tangaraense.

Iolanda Garcia
Rodney Garcia

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