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Nelson Martinez Garcia – O paulista que escolheu Tangará para viver e morar para sempre

Rosi Oliveira / Redação DS 30/05/2023 Memória

Ele chegou em Tangará da Serra no dia 2 de novembro de 1967

Nelson era um paulista que nasceu em 14 de junho de 1952

Nelson Martinez Garcia, o paulista que escolheu Tangará para viver e morar para sempre

Quem acompanha o Diário da Serra vai lembrar que o nosso homenageado já teve sua História contada pelo periódico, mas há uma grande diferença na mesma, porque a primeira foi o próprio Nelson Martinez Garcia quem narrou os fatos e dessa vez, conheceremos ele pelo olhar de quem conviveu com ele, sua família.

Nelson era um paulista que nasceu em 14 de junho de 1952 em Tupã-São Paulo em uma família com situação financeira remediada, mas que não se dava ao privilégio de não precisar trabalhar. Sempre tiveram terras e sempre trabalharam nela para tirar o sustento da família, e isso, Nelson aprendeu desde muito cedo, já que era o filho mais velho do casal João Martinez Garcia e Luzia Martins Garcia Ortega, que são pais também de Irene Martinez Garcia Costa, José Martinez Garcia, Pedro Martinez Garcia, Madalena Martinez Garcia Cardoso e Antônio Martinez Garcia.

Após um tempo em Tupã, a família muda-se para Terra Rica e depois para Luanda, ambas cidades do Paraná, aonde continuam a lidar na terra. A vida seguia seu curso normal e tudo ia bem, mas por conta de uma forte geada que se abateu sobre o Estado, muitas plantações foram totalmente perdidas e isso infelizmente aconteceu com a família de Nelson. A lavoura plantada sob muito trabalho não vingou, e o pai de Nelson acabou por esmorecer na lida do café.

Por esse motivo, a família decide novamente se mudar em busca de outro local aonde pudessem recomeçar. Lembram-se então, que havia no Mato Grosso, mais especificamente em Tangará da Serra, um dos irmãos de Dona Luzia (mãe de Nelson).

“Ele me contava que com a geada o seu João (pai de Nelson) desacreditou do lugar, só que aí, o irmão da dona Luzia já estava aqui”,

lembra o genro, Juliano, ao contar que o tio de Nelson já tinha se estabelecido em Tangará da Serra e havia inclusive, montado um armazém de secos e molhados. Por esse motivo, o pai de Nelson veio conhecer o lugar, gostou e ao retornar, vendeu tudo que possuíam e vieram rumo ao Mato Grosso com destino a Tangará da Serra, em novembro de 1967.

Rumo a Tangará da Serra: Uma mudança carregada de esperança

As informações sobre a viagem são poucas, mas todos os comentários giram em torno de descrever uma cidade ainda em construção, aonde tudo era muito difícil.

Ao chegarem ao município, como sempre faziam, adquiriram terras e começaram novamente plantando nelas suas esperanças. Embora tenha ajudado no início os pais na terra, Nelson teve a oportunidade de trabalhar com o tio e não desperdiçou. Teve então, seu primeiro emprego, aonde permaneceu por oito anos.

Com a oportunidade, e por querer progredir, abraçou-as e uma delas envolvia continuar os estudos, o que fez sem reclamar apesar de trabalhar o dia inteiro.

Se esforçou e terminou a 8ª série na Escola 29 de Novembro. Como era muito inteligente e extremamente responsável, também por ter para a época escolaridade avançada, foi convidado para lecionar e tornou um dos professores na antiga escola Emanoel Pinheiro, que hoje é a escola Militar Tiradentes, que anteriormente ficava próxima à Delegacia Regional. Descobriu na profissão um grande dom que recordava com muito orgulho conforme a família relata.

“Na época que ele estudou, fazer a 8ª série já era considerada muita coisa, como se fosse um 2º grau”,

frisa o filho, Fabiano Garcia.

O encontro do amor: A alma gêmea mora ao lado

A vida seguia boa e tranquila, mas de repente passou a ser bela, ou mais que isso, passou a ser gloriosa!

Nelson, que morava na região central de Tangará da Serra, cruzou os olhares com aquela que viria a ser o amor de toda a sua vida e com quem construiria sua nova etapa de vida. Glória havia se mudado para a cidade. Chegou ao Município, vinda de Quirinópolis, Goiás, com 17 anos e com a família foi morar próxima à casa de Nelson.

“Eu morava ali aonde é a Manzano Calçados e o Nelson morava três casas para cima da minha”,

recorda a esposa, que ri alegremente ao contar como tudo começou.

Há época ela com 17 e ele com 20. 

“Um dia eu fui levar um menininho de três anos ao circo, ali onde é a igreja Matriz hoje. O circo era a sensação do lugar e uma das diversões daqui quando vinha porque não tinha nada. Daí um dia fui levar meu sobrinho para ver os bichos e ele me seguiu e foi puxando conversa. Ele trabalhava no cartório que era ali aonde é hoje a Móveis Rose. Acho que ele foi até mais cedo aquele dia. E disse que já tinha me visto e ali começou o namorico”,

narra dona Glória, retornando ao passado.

Os dois foram levando o namorico, mas já havia tanto para um quanto para o outro, a certeza que era para vida toda, o que acabou incentivando o namorado a pedir permissão aos pais da amada, Glória.

“Naquela fase ele ainda não estava careca e usava o cabelinho meio compridinho e meu pai era mineiro sistemático e quando eu falei que tinha um rapaz querendo ir pedir para a gente namorar, papai falou: ‘É aquele cabeludinho do Cartório?’”,

conta Glória, sorrindo deliciosamente.

Com a benção dos pais da amada, o namoro passou a ser em casa e quando saíam, tinham que levar companhia. Glória lembra que para namorar, os dois iam ao cinema que ficava aonde hoje é o Gotardo, mas eram obrigados a levarem os irmãos para dificultar qualquer estripulia.

“Meu pai marcava em cima. Ele comprou até um lampião porque a energia era até as 10 da noite por motor, e mesmo com o lampião ele ficava dentro da sala”,

relata, sempre aos risos.

Conforme ela, Nelson torcia para que o lampião queimasse. Tanto torceu, que deu certo e logo o lampião restou prejudicado.

Segundo conta Glória, Nelson acabou por conquistar o coração da família dela, principalmente do pai, de quem ele sempre tirava sarro por causa do lampião.

Casaram-se após um ano e meio, no dia 31 de janeiro de 1974 e moravam em uma casinha próximo a Manzano nos fundos do quintal dos pais dela. Lá nasceu Fabiano, o primeiro filho do casal.

O provedor: Aquele que puxava as responsabilidades para si

A família cresceu com a chegada do filho, mas Nelson talvez por crença dos ancestrais, nunca permitiu que a esposa trabalhasse fora. E toda vez que ela tocava no assunto ele dizia:

“- Deixa! Que eu ainda estou dando conta!”.

E de fato deu.

Visionário deixou a família bem suprida após sua partida, com meios para se manter, principalmente a esposa.

“Meu pai sempre foi muito honesto, muitas vezes bom para os outros e por vezes, ruim para ele. Ele sofreu muito para deixar a gente bem alicerçado e isso acabou fazendo ele se sacrificar trabalhando muito”,

conta o filho.

Por esse motivo, além de ser também por sua imensa responsabilidade, se desdobrava, trazendo inclusive, muito trabalho para casa ao final do dia. De acordo com a esposa, quando ele trabalhava no Cartório do Tuim, para não deixar o trabalho acumular ou alguém reclamar ou ser prejudicado pela falta do documento, fazia a mão a luz de vela quando a energia faltava, o que era inclusive muito comum acontecer há época.

Dois anos depois de Fabiano, o casal é presenteado com uma menina. Franciane chega para completar o quarteto que para Nelson era o trio de sua vida. Os dias vão e vem e Nelson segue na toada de levantar, tomar um café, se despedir da família e seguir para o trabalho, o que fazia quase sempre a pé. Segue a se concentrar a fazer o que mais ama, trabalhar e trabalhar.

Por 15 anos Nelson fez todos os dias, sem nunca faltar, o mesmo trajeto rumo ao Cartório, aonde foi Tabelião substituto e Juiz de Paz. Ali fazia outra de suas paixões, ajudava imensamente as pessoas mais humildes tamanho era seu coração generoso.

“Ele ajudava até financeiramente quando via que a pessoa não conseguia pagar, mas precisava daquele documento”.

Com muita luta e economia o casal construiu a primeira casa, próxima a Delícias do Céu - atualmente. Após esse período foi trabalhar na Casemat, depois em loja de eletromóveis e foi para a Prefeitura na gestão do prefeito Antônio Porfírio, permanecendo também no período de Manoel Andrade.

O esteio forte, mas sensível de uma família que conheceu de verdade o amor de pai

Ao ouvir a História de Nelson, as palavras que mais se repetiram foram: responsável, sério, amoroso e esforçado. Mas a que mais impressiona, é chorão. Conforme comentários dos familiares, tinha um coração de manteiga que muita gente não conheceu tamanha era sua discrição, mas para a família ele era ele.

Chorava ao telefone pela distância, chorava com um filme emocionante, chorava quando filhos nasciam, chorava quando os netos vieram, chorou ao casar a filha com quem tinha uma ligação difícil de descrever, cheia de cumplicidade e amor.

“Meu pai era intenso e isso era em tudo. Ele era muito brincalhão, apesar de ter uma postura de seriedade, mas quando ficava bravo, era bravo mesmo”,

conta Franciane, quase sem conseguir falar tamanha a emoção ao se recordar do seu herói sem capa.

Nelson a todo momento é identificado pelos dois filhos, pela esposa e pelo genro como extremamente dedicado, responsável e perfeccionista. É lembrado como aquele que começou a trabalhar cedo, cuidou dos irmãos mais novos, depois dos pais, cuidou da família, ajudou amigos e desconhecidos, mas infelizmente, lembrou-se muito pouco de si mesmo.

“Não cuidava da saúde e por vezes não gastava até com a sua saúde porque podia faltar no amanhã”,

relatam.

Um dos pontos lembrados pela família era o zelo que tinha com tudo.

“Quando inaugurou a Praça da Bíblia se ele visse alguém com o pé em cima do banco ele arrumava confusão”

comentam.

Nelson era pacífico, mas jamais deixou-se humilhar ou aos seus. Nesse momento, a família recorda que acompanharam dois momentos inesquecíveis dos lados opostos de Nelson. O primeiro em que teve um embate bravio para defender o filho que havia sido desaforado por causa de uma casa. O segundo, quando o genro foi pedir para namorar Franciane e acabou levando um carreirão do sogro.

Suas paixões

Dentre as paixões de Nelson destacamos com toda certeza em primeiro lugar, a família, depois ajudar os outros, depois pescar e por último e não menos importante, o futebol que era em Tangará da Serra sua distração, mas como era extremamente caseiro e dedicado à família não era dado a muitas saídas.

A doença que levou o homem do coração de ouro

A vida de Nelson foi trabalho e, quem sabe por isso, a saúde restou prejudicada. Em 2017 começou a apresentar um problema que afetou grande parte dos familiares. Teve um cálculo renal e após um procedimento passou a ter uma grande sequela. Fez o tratamento e mesmo assim, não surtia efeito, o que levou a retirada do rim e, feita a investigação, diagnosticou-se um câncer, que regrediu com o tratamento.

Mas, mesmo assim, continuou a realizar o protocolo preconizado para a doença, e fazia os exames a cada seis meses. Um tempo depois, em 2019 apareceu um caroço que dava indicativo de hérnia, mas os exames apontaram que no local de onde o rim foi retirado ficaram células cancerígenas. O caroço foi retirado e com exame apontou a recidiva da doença.

Mesmo com todo acompanhamento, após seis meses da retirada, o Pat Scan apontou vários pontos cancerígenos na barriga, que havia sido tomada pela metástase entre a gordura e os órgãos. O tratamento, os acompanhamentos, os cuidados da família seguiam, mas ao retornar de Cuiabá, após a segunda cirurgia, foi encaminhado a um Oncologista que revelou aos filhos a real situação do pai e deu o diagnóstico de que restava pouco tempo para Nelson. Por esse motivo, a família se mobilizou para dar a ele o melhor lugar para proporcionar qualidade de vida e tratamento mais acessível, conseguindo o encaminhamento para Barretos em 2020.

“Ele viveu com o câncer por cinco anos”,

diz o filho.

A família relata que Nelson já havia tido problemas nesse mesmo rim há vinte anos antes, mas como dito, não parava para se cuidar. Foi operado inclusive desse rim, por duas vezes e foi informado que teria a capacidade de apenas 30%, sendo aconselhado a ingestão constante de água, que ele não levou tão ao pé da letra.

Ao iniciar a quimioterapia, debilitado, acabou por contrair a Covid 19. Os dias passaram e Nelson pediu à família que queria retornar para casa, no que foi de pronto atendido. Ao retornar, ficou um dia em casa e no dia posterior já apresentou complicações e teve que ser levado ao hospital por conta do Covid. No hospital acabou sendo internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). A complicação da Covid acelerou a partida de Nelson que aconteceu no dia 20 de novembro de 2020, Dia da Consciência Negra, povo que sempre defendeu e jamais tolerou piadas e humilhações. O guerreiro ficou na UTI por 30 dias.

“O mais triste é que nós não tivemos tempo de velar ele”,

lamenta a família. Cabe salientar para as gerações vindouras que, a pandemia da Covid-19 se abateu sobre o mundo no ano de 2019, quando muitas famílias perderam seus entes queridos. O número de mortes foi estarrecedor e por não se conhecer o vírus que possuía nível de letalidade altíssimo, os funerais ocorriam com os caixões lacrados. A família, em muitas das vezes, não conseguia nem acompanhar o caixão até a sepultura. Por isso, a família de Nelson faz essa colocação de não o terem velado.

A HOMENAGEM

Nelson deixou cinco netos, três meninas e dois meninos e por seu legado de honestidade e envolvimento com Tangará da Serra acabou por ser homenageado pelo vereador Ademir Anibale que deu seu nome a Rua 160 do Altos do Tarumã.

Segundo informações, a denominação era objetivada já na gestão do ex-prefeito Fabio Junqueira que era muito amigo de Nelson Martinez Garcia, que agora tornou-se uma gratificante realidade.

“Ele deixou um bom legado para nós. Durante o tempo que vivemos com ele foi muito bom”,

reforçam os familiares.



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