Donatilia Rodrigues Pereira nasceu em 29 de abril de 1937 em Itamarandiba, em Minas Gerais, e desde muito cedo aprendeu a lidar na terra com os pais
Quarta filha do casal José Rodrigues das Neves e Vergilia Vieira Rocha, Donatilia Rodrigues Pereira nasceu em 29 de abril de 1937 em Itamarandiba, em Minas Gerais, e desde muito cedo aprendeu a lidar na terra com os pais que, na classificação da filha Dionizia Rodrigues Pereira, conhecida por Dona Nice, eram extremamente pobres.
Conforme Nice, a mãe foi logo cedo apresentada a uma enxada e com ela cresceu nas mãos. A família era desprovida de qualquer recurso e se mudava com muita frequência por viver da caridade das pessoas que lhes davam lugar para morar por certo tempo, ou quando aparecesse um trabalho para onde pudessem mudar o casal com os oito filhos: Antonio, Sebastiana, Maria, Alcina, Vicente, Domingos, Geralda e Donatilia.
“Lidava no sol e na chuva colhendo café ou algodão”.
Não estudou, inclusive, nem o nome aprendeu a assinar, destino dos outros irmãos da qual somente Geralda escapou.
“No lugar aonde eu nasci a gente nunca via ninguém indo para escola e nem sabia que tinha escola”, conta a filha. “Morava hoje aqui, o ano que vem já ia para outro lugar”.
Por conta dos costumes antigos, casou-se muito nova, com apenas 13 anos de idade, com Antônio Pereira de Santana, que conheceu numa dessas mudanças. Ele tinha 17 anos.
“Os pais não deixavam ficar de namoro um com outro. Quando via que o rapaz era bom, já dava jeito de casar”,
conta a filha.
Após o casamento, a vida de Donatilia teve uma pequena melhora, pois o casal foi morar nas terras da sogra, que era uma mulher muito boa, e através de mutirão ganharam uma casinha no quintal dos parentes do marido.
Tudo seguia seu curso natural e a cada dia que passava o casal se mostrava mais unido. Antônio era mais calmo e apesar da esposa ser mais brava, se davam muito bem.
O casamento foi um dos maiores acertos de Donatilia, uma vez que o esposo era um homem muito bom, tanto para ela quanto para os filhos. Quando tinha 16 anos o primeiro filho chegou, Geraldo. Com proposta de vida melhor, e acompanhando os sogros, todos se mudam para o Paraná.
“A proposta de um lugar em que se o colono limpasse a terra, poderia nela morar e plantar para sua manutenção. Ali plantaram café e o restante dos filhos nasceram”,
conta a filha. No Paraná nasceram Dionízia, Cícero, Maria do Amparo e Geni.
Tempos depois, o sogro retorna para Minas Gerais, mas Donatilia e o esposo decidem ficar.
Quando o contrato terminou, a família teve novamente que se mudar e iniciou a perambulação de um lugar para outro, conforme a filha conta.
Com filhos para sustentar e a incerteza de ter uma terra ou mesmo um lar, o esposo de Donatilia ouve falar de Tangará da Serra.
“Meu pai ouvia o rádio o dia todo e diziam que aqui o dinheiro era muito que ganhava e, que dava para puxar no rastelo. Ele botou na cabeça que vinha para cá e começou a juntar o dinheiro”.
Com a quantia em mãos, a família arrumou a mudança e Donatilia, que morava há época em Umuarama, foi até Paranavaí para se despedir da mãe com o filho mais velho. A mãe ao saber da mudança não se alegrou e disse que preferia morrer ao ver a filha vindo para tão longe. E ainda acrescentou que nunca mais os veria. Foi repreendida pela filha que prometeu voltar para visitar os que lá ficavam.
Nisso, saiu para se despedir de uma tia que morava nos fundos da casa da mãe e a deixou sentada na porta com o pai. Ao retornar, encontrou a mãe no mesmo lugar já sem vida. Com isso, a viagem teve que ser adiada.
“Viemos de lá para cá muito mal por termos enterrado minha avó num dia e já termos vindo no outro. Foi o maior sofrimento naqueles ônibus velhos, minha mãe chorava o tempo inteiro”,
relembra.
“Já tinha entregado a fazenda e a gente não podia mais ficar, tinha que vir”.
Com a vinda para o Mato Grosso, a família acabou por perder o contato com o restante dos parentes que lá ficaram, restabelecendo-o somente 28 anos depois.
“Demorou demais para chegar aqui, era estrada de chão, meus irmãos nunca tinham andado de carro e, virou aquela ‘vomitadeira’ dentro do ônibus, parecia que estava tudo rodando”,
conta Nice, rindo da recordação e da dificuldade que era subir a Serra Tapirapuã.
“Pediram para os adultos descerem para empurrar o caminhão e para ficar mais leve e nós começamos a chorar com medo de deixarem nossos pais para trás”,
relembra.
“Chegamos em 1973. A cidade era toda coberta de tabuinha, as ruas eram de terra e dormimos sobre panos forrados no chão”.
Donatilia, após a viagem, chorou mais ainda por perder um saco com panelas e outros objetos que trazia.
“Era só o que a gente tinha”.
Alugaram um barraco e a vida foi caminhando. O esposo tão logo chegou já conseguiu trabalho em uma fazenda e foi com um dos filhos, deixando Donatilia com os outros. Como o marido não mandava notícias, decidiu fazer umas rosquinhas e os filhos vendiam e assim, sustentava os filhos. Quando foi para a fazenda, o esposo teve o aluguel da casa em que deixou a família pago pelo ‘gato’ (pessoa que empreitava o serviço e contratava a mão de obra).
O esposo chegou em casa depois de vários meses com o filho bastante debilitado, pois tivera que fugir da fazenda e caminhou muito sem saber o rumo por nada conhecer na região. Com essa fuga, Donatilia já estava dando os dois por mortos, uma vez que o ‘gato’ disse que por onde deveriam ter andado havia muita onça e ela já estava fazendo de tudo para juntar o dinheiro para voltar para junto dos seus.
Através desse aprendizado, seu esposo Antônio passou a ser Antônio ‘Gato’ e contratava pessoas para realizar serviços em fazendas.
Muito trabalhadeira, Donatilia passou a seguir o esposo e cozinhava nas fazendas para cerca de 20 a 30 peões.
Quando aposentou-se passou a trabalhar como cabo eleitoral e geralmente o candidato que ela apoiava, ganhava. Por isso, era demasiadamente disputada pelos candidatos.
“Ela brigava pelo candidato e ia longe por causa de um comício”.
No ano de 1996 teve um Acidente Vascular Cerebral e depois disso ficou com a saúde bastante abalada. Como não melhorava, os parentes a levaram para São Paulo em busca de tratamento, mas como tudo era muito mais difícil, retornaram e ela acabou falecendo no dia 16 de novembro de 1998, com 56 anos.
Ao se consultar em São Paulo, a suspeita é de que havia desenvolvido um câncer de intestino, mas aqui, teve como causa da morte, a doença de chagas.
Como forma de homenagem, Donatilia teve o nome lembrado pelo vereador Edmilson Porfírio e terá seu nome eternizado na praça da Vila Esmeralda, lugar que amou e escolheu para fincar suas raízes e aonde findou seus dias.
“Donatilia Rodrigues Pereira é mais uma anônima que dedicou grande parte da sua vida para ajudar os munícipes e para o desenvolvimento de Tangara da Serra, e por isso é merecedora de nossa homenagem”,
agradece Edmilson Porfírio.