É lembrado até hoje com saudade não apenas dos familiares, mas pelos amigos e também pelos conhecidos, mas ouviam e viam seu trabalho de sol a sol de ajudar a população de Tangará da Serra
Um homem para qual o fio do bigode tinha força de uma rubrica no papel. Assim podemos descrever Miguel Romanhuk, um dos mais atuantes secretários de Saúde que Tangará da Serra já teve e que ainda hoje, 11 anos após sua partida, é lembrado pelos munícipes.
Nascido em 13 de novembro de 1953 em Araruna no Paraná, sendo esse um distrito de Campo Mourão, morava na Comunidade São Miguel aonde os outros irmãos Isaura, Joana, Pedro, Paulo, Olga e Clemente nasceram.
Era o terceiro dos filhos e cresceu lidando na terra, aonde os pais eram agricultores e cultivavam café.
“Era uma vida bem sofrida”,
diz a filha Viviane, que nos narra a história, salientando que a família, apesar de serem donos da terra, era bem humilde, sem muitas condições financeiras.
Fez apenas o primário, que nos dias de hoje equivaleria ao terceiro ano, mas a vida o muniu de sabedoria suficiente, aprendida a muitas dores. O que Miguel nunca soube, é que todo o sofrimento que passaria lhe daria a base para ajudar pessoas no momento que mais necessitariam.
Aos 21 anos, conheceu a esposa Leonilda Cataneo, de 19 anos, moradora de Pinhãozinho, distrito próximo de onde ele morava. A escolha de Miguel ocorreu após ver Leonilda numa festa que estavam. Mandou recado, mas a moça descartou, voltando atrás um tempo depois.
“Para ele não namorar uma moça que eu conhecia e estava a fim dele, iniciei o namoro”,
conta Leonilda.
O namoro ganhou mais incentivo quando a mãe de Leonilda não deu a permissão por causa da idade e do enxoval que ela não tinha. Sendo assim, os dois se encontravam nas quermesses que aconteciam em Pinhãozinho. Dias seguiram e após um ano e três meses o casamento aconteceu com a benção do sogro, que não gostava de namoros demorados. Miguel chegou na família dentro do coração do sogro, mas na janela do coração da sogra, que somente abriu a porta depois de bom tempo de convivência.
“Meu pai era apaixonado por ele, que era muito prestativo e trabalhador”,
relembra a ex-esposa.
O casal foi então morar no sítio com os pais de Miguel e cerca de um ano e meio depois, mudaram-se para a casa dos sogros dele, local aonde Viviane nasceu. Era o braço direito do sogro, que tinha uma máquina de arroz, campo de bocha e uma venda (comércio).
A vida seguia seu curso natural, quando a filha com dois anos adoeceu, o que forçou o casal a se mudar para Curitiba, em 1978, para o tratamento. Nesse período trabalhava numa fábrica para manter o tratamento e a família.
De acordo com a filha, o pai nessa época foi educado para o que a vida lhe traria.
“O pai não sabia subir de elevador, tudo era novidade e dificuldade, daí que veio a forma de tratar as pessoas”,
salienta.
Após o tratamento, voltam para Araruna e fixam-se na cidade quando trabalhou como servente de pedreiro.
No ano de 1983 o pai decide vir para Tangará da Serra e Miguel veio junto. Aqui já moravam o cunhado Jaime Muraro e a irmã Olga Muraro. Na mudança somente Miguel veio, a esposa e a filha chegaram oito meses depois.
Aqui foi trabalhar na fazenda com o cunhado de serviço braçal, enquanto o sogro não comprava as terras.
“Ele foi nos buscar, não tinha estrada e viemos em um Fiat 147 de Araruna até aqui. Na serra [Tapirapuã] tinha que esperar um subir para o outro descer porque a estrada era muito estreitinha”,
narra Viviane, ao contar que demoraram três dias para chegar a Tangará.
Após o sogro adquirir as terras no São Joaquim do Boche, retorna para o ajudar, mas a terra não era tão boa quanto acreditavam. Nessa época, Jaime Muraro (cunhado) se candidata a deputado estadual e é eleito para o período 1987-1991 e reeleito para 12ª legislatura 1991-1995.
Nessa fase, a vida de Miguel seguiu outros caminhos. Ficou sob sua incumbência a pasta da Saúde. Era ele quem marcava as consultas em Cuiabá e levava e buscava o doente na rodoviária.
“Ele acompanhava até a porta e ficava esperando”,
conta a filha.
“Pegava na casa de apoio e levava à consulta e trazia de volta para Tangará da Serra”.
Miguel, sem quase nenhum estudo, foi aprendendo como a coisa funcionava, em que portas podia bater. Aprendeu as que abriam e isso foi facilitando a vida das pessoas que ele levava para tratamento.
“Foi ali que ele pegou conhecimento na área da Saúde e quando tinha os mutirões aqui em Tangará ele conseguia trazer várias especialidades”.
Os médicos que se tornaram parceiros e mais que isso, amigos, vinham de graça pela amizade com ele e se hospedavam, inclusive, em sua residência.
Já em 1997 Jaime Muraro se candidatou a prefeito e foi eleito, e Miguel passou ao setor de Licitação, mas acabou se tornando secretário de Saúde. Uma vez por mês fazia um mutirão, sendo em todos os bairros da cidade.
“Os exames que não tinham aqui ele já marcava em Cuiabá porque tinha conhecimento”.
A amizade com o secretário de Saúde do Estado era bem aproveitada por Miguel, o que beneficiava a população.
“Tudo tem um propósito divino. O pai teve que passar por aquela escola do meu tratamento para chegar na faculdade aqui, para ele aprender a lidar com o povo”.
Quem não o conhecia podia cismar com seu jeito sério, mas ao conhecer, derrubava por terra todo o ‘pré conceito’. Era prestativo e de poucas palavras, mas de resposta e atitude rápida e sempre pronto a ajudar quem o procurava, a quem chamava de ‘líder ou gaúcho’.
“Às vezes ele atendia no meio da rua. Em cima do capô do carro ele fazia um bilhete e já encaminhava a pessoa para o médico que podia ajudar. Meu pai nunca deu um não para alguém. Ele podia se arrebentar, mas ele fazia acontecer”.
A fama de Miguel correu Tangará e região. Seu traço mais forte, além da postura de retidão e servidão, foi o da humildade.
Em 2008 se lançou a vereador sendo o mais votado da história de Tangará da Serra. Durante essa fase, como Presidente da Câmara Municipal, assumiu por 90 dias a condução do município quando o prefeito Júlio Cesar Davoli Ladeia foi afastado pela Justiça.
Tentou reeleição, mas não retornou à Câmara Municipal. Diante disso, e por ter muito conhecimento foi convidado e assumiu a Secretaria Municipal de Brasnorte, aonde chegou a morar por um período.
Miguel não bebia, não fumava, mas no dia 18 de maio de 2013 deu entrada na Unidade de Pronto Atendimento (Upa), aonde teve um infarto fulminante por volta das duas horas da manhã, aos 59 anos de idade.
Foi velado no Lions Clube por onde estima-se que tenham passado cerca de cinco mil pessoas para o adeus final.
Enquanto esteve pela Terra, construiu amizades indissolúveis e fez admiradores de seu jeito sério de trabalhar sem levar em consideração a hora, a distância, a cor.
É lembrado até hoje com saudade não apenas dos familiares, mas pelos amigos e também pelos conhecidos, mas ouviam e viam seu trabalho de sol a sol de ajudar a população de Tangará da Serra. Por tanto trabalho prestado às pessoas que ele tanto amou, foi lembrado pelo vereador Hélio da Nazaré que denominou a Unidade de Saúde da Família da Vila Nazaré com seu nome, eternizando mais ainda um homem que viveu para servir, sem jamais pensar no retorno.
Além de Viviane, Romanhuk teve mais duas filhas do seu segundo casamento: Nathalia Brandão Romanhuk e Julia Brandão Romanhuk, seus amores da idade maior.