João e a família se mudaram para Tangará da Serra em 1971
João Chagas de Oliveira é pai de Antônia, Pedro, Luzia, Paulo, Lúcia e Fabrício. E os seis foram criados nos moldes antigos, quando um filho passar pelo pai após acordar sem cumprimentar com um bom dia, ou pedir a bênção valia um safanão ao pé do ouvido. Do tempo também, que os pais não dormiam enquanto os filhos não retornavam das festas para casa. Assim era João, um paranaense nascido em 18 de junho de 1941 em Santo Antônio da Platina. Ali, com o pai tocava roça, de onde tiravam o sustento da família, que contava com mais cinco irmãos: Geraldo, Jorge, Antônio, José Francisco, Vergino, nascidos do casamento de Francisco Chagas de Oliveira e Jorgina Maria de Oliveira, que, segundo relatos do filho Pedro, que narra a história, tinha apenas 14 anos quando se casou com Maria.
A vida da família não era nada fácil e na lida aqui e acolá, conseguiam se manter com muita dificuldade.
Através dos irmãos da esposa que vieram conhecer Tangará da Serra, o casal se muda para o povoado em 1971, quando somente dois dos filhos haviam nascidos. Um deles era Pedro que tinha somente 30 dias e que narra a história do pai.
“Meu pai nem veio conhecer. Ele veio só pelas conversas dos meus tios, pelo que os meus tios falaram pra ele”.
Em Tangará da Serra foram trabalhar na roça, na Santa Cândida e São Paulino plantando arroz, mas João não se adaptou e mudaram-se então, para a cidade aonde prestava serviço de carpintaria em construção de casas. Mas como era interessado e esperto, entendia de mecânica de carros também, de onde tirava a maior renda para sustentar a família que já estava maior. Quando não tinha serviço, fazia transporte de toras para terceiros que trazia de Santo Afonso para Tangará da Serra como motorista na Comercial Ivaí. Nessas três profissões permaneceu até 1982 quando fichou na prefeitura.
Ao ser contratado, João foi designado para trabalhar no Cemitério Municipal, aonde abria as covas para sepultamentos. Conforme relatos, todos eles trabalharam com o pai no cemitério.
“Quando ele assumiu lá estava muito sujo. Então, a gente ia cedinho e a mãe levava comida pra nós. E a gente trabalhava o dia inteiro no cabo da enxada”,
recorda, ao lembrar que tudo tinha que estar pronto para o Dia de Finados.
“Ali aonde é o Memorial hoje, era grande, tinha espaço para trabalhar”.
O carinho pelo local de trabalho foi crescendo e ali fez amizades e até fazia os filhos irem abrir o cemitério para um senhor que tinha dia e hora para fazer suas orações no local, mesmo que não houvesse nenhum enterro os portões deviam ficar abertos.
Após um tempo curto em Tangará da Serra, adoeceu quando houve o surto de Febre Amarela que matou muita gente e teve que ir retornar ao Paraná aonde ficou por 90 dias até melhorar.
Para se deslocar usava sempre uma bicicleta que era sua companheira inseparável. No ano de 1986 saíram-lhe pelo corpo várias feridas que o impediam inclusive, de pedalar sua magrela (bicicleta). Com isso, perdeu as forças das pernas e tinha muita dificuldade para se locomover.
“Quando estava sentado e ia se levantar, o corpo tremia todo”,
conta Pedro.
Dentre muitas coisas que Pedro lembra do pai, o fato de ser sistemático é o que mais se ressalta. Tanto que, mesmo dentro de casa, jamais usou uma bermuda. Sempre estava de calça comprida no frio ou no calor. E com toda sua simplicidade entrava em qualquer que fosse o lugar com seu chinelinho de pé, sem jamais ter usado um sapato ou tênis.
“Era rígido com a família de um tanto. Se fizesse errado, mesmo casado, a mão comia por cima da orelha do mesmo jeito”.
O pai era extremamente rigoroso e dava valor aos bons modos que transmitiu a cada um dos filhos como herança.
“Não alisava para bater e não teve nenhum perdido na família”.
Apesar de ser muito sério, tinha um coração de manteiga e amava de verdade. Poucas foram as vezes que foi visto triste a não ser com a perda da sogra que morou com sua família por 15 anos. O sentimento ficou explícito no dia que a mãe da esposa que tinha idas recorrentes ao hospital aonde ficava na Unidade de Terapia Intensiva (ITU) quase sempre, sendo desenganada pelos médicos, faleceu.
“Avisamos ele da morte dela e ele ficou quieto, mas quando chegou a funerária com o caixão ele passou muito mal e teve que ser hospitalizado inclusive”,
conta Pedro, ao lembrar que o fato causou espanto no médico que o atendeu.
“Ele tirou sarro falando que já tinha visto genro ficar feliz com a morte da sogra, mas triste, nunca”,
relata nosso narrador.
A impressão que se tem é que João realmente virou familiar da família da esposa com quem e por quem, ele tinha muito carinho e fazia questão de agradar com festas inclusive.
“Ele tinha prazer de reunir os parentes e fazer festas animadas”.
Para o filho, o segundo momento mais marcante de tristeza de João foi a perda da esposa que morreu em 2016, no dia 12 de janeiro.
“Meu pai se levantou cedinho como sempre e se sentou aqui fora. Meu irmão chegou e perguntou da mãe e ele disse que estava dormindo. Ele entrou lá e voltou dizendo que ela estava morta”,
relata o filho, lembrando da tristeza que se abateu sobre o pai.
Desse dia em diante, o brilho sumiu do olhar do guerreiro que apesar de ter o apoio, cuidado e amor dos filhos e filhas, não conseguiu mais se erguer. Com a partida da esposa foi perdendo a alegria e após um tempo começou a apresentar esquecimentos, quando foi diagnosticado com Alzheimer.
Tempos depois apresentou um problema de garganta que suspeitam ser Câncer, mas que infelizmente não teve nem tempo para ser investigado porque partiu antes do exame solicitado, devido a sua debilitação. O caso foi associado ao uso do cigarro, vício que adquiriu desde muito novo.
Viveu apenas três anos e três meses após perder a esposa e por ter serviços prestados, inclusive em um dos momentos mais dolorosos da vida de muitas pessoas, que João ajudou a levar à eterna morada, teve seu nome lembrado pela vereadora Elaine Antunes, que deu seu nome a uma das ruas na Vila São Pedro, que a partir desse ano se chama rua João Chagas de Oliveira.