O amor de pai e mãe é justamente esse espaço de acolhimento
Na quinta-feira passada à noite, minha filha estava com dificuldades para dormir. Ela sempre arruma mil desculpas. Primeiro, conta histórias engraçadas e depois atualiza as fofocas do dia. Só perde para a hora do banho, quando ela se transforma em uma ninja das histórias, tudo para adiar o momento de se molhar. Mas naquela noite, algo parecia diferente.
• O que está acontecendo? perguntei, tentando entender.
• Ela, com aqueles olhinhos apreensivos, respondeu: “Tô com medo de pagar mico amanhã, papai.
No dia seguinte, haveria a Mostra das Nações na escola (Avance), e ela teria que falar sobre tornados e furacões, representando os Estados Unidos, mas o medo do julgamento, a insegurança de falhar, tudo isso tirava o sono dela naquela noite.
Ela estava ansiosa e insegura. Decidi deitar ao seu lado e conversar um pouco. Conversamos sobre seus sentimentos, e quanto mais conversávamos, mais era visível sua inquietação. Seria simples dizer: “Você já é grande, vai ficar tudo bem”, mas eu sabia que ela precisava mais do que palavras. Ela precisava de presença. Convidei-a, então, para dormir no nosso quarto, com a mãe e o pai perto, oferecendo a segurança que só um abraço pode dar em momentos de extrema angústia.
E foi como um remédio. Ela relaxou, encostou a cabeça e, sentindo-se protegida, adormeceu rapidamente. Aquele simples gesto a tranquilizou, e a ansiedade se dissipou. Às vezes, exigimos maturidade precoce, esquecendo que, no fundo, ainda são crianças. Dizemos “você já está grande, se vira”, sem perceber que, mesmo adultos, também precisamos, em momentos de angústia, de um afago, de um colo, de alguém que esteja por perto.
A vida não precisa ser uma sucessão de exigências e regras rígidas. Não é porque minha filha dorme sozinha em seu quarto que, em uma noite de medo ou insegurança, não possa buscar refúgio no nosso. O amor de pai e mãe é justamente esse espaço de acolhimento. Saber quando oferecer as palavras certas, quando dar a liberdade necessária, mas também, quando simplesmente estar presente. Às vezes, tudo o que nossos filhos precisam é de um pouco de aconchego.
Cuidar não é limitar. Cuidar é acolher, é entender que até os mais crescidos, de vez em quando, precisam voltar para o colo. Porque, no fundo, o que todos buscamos, em qualquer idade, é um lugar seguro para recarregar as forças e seguir em frente.