O trabalho foi conduzido pelo Instituto Pantanal Amazônia de Conservação (IPAC) em parceria com diversos órgãos
A escassez de água é um dos grandes desafios do século XXI, e não precisamos ir muito longe para falarmos das dificuldades que a falta de água traz para a sociedade. Tangará da Serra presenciou esses desafios, uma situação que teve início em 2013 e se agravou em 2016 quando a crise hídrica que atingiu o Rio Queima Pé, que abastece a cidade, deixou a população sem água nas torneiras.
Neste mês de março celebramos o Dia Mundial da Água e não podemos deixar de mencionar a recuperação do Rio Queima Pé, que é um marco na história ambiental de Tangará da Serra. O trabalho de recuperação foi conduzido pelo Instituto Pantanal Amazônia de Conservação (IPAC) em parceria com diversos órgãos, garantindo a revitalização do rio e a segurança hídrica da cidade.
A falta de água causou grandes dificuldades para a população e prejudicou o meio ambiente. A degradação das nascentes fez com que em alguns momentos a vazão do rio chegasse a zero litros por segundo. Em 2014, o IPAC encontrou uma oportunidade através do Programa Produtor de Água da Agência Nacional de Águas (ANA), que disponibilizou um edital para financiamento de projetos de recuperação de bacias hidrográficas. No entanto, a liberação dos recursos dependia da criação de uma lei de pagamento por serviços ambientais, o que gerou entraves burocráticos. Somente após anos de debate e negociações, a lei foi aprovada, permitindo a obtenção do financiamento.
Já em 2021, a gestão municipal, liderada pelo prefeito Vander Masson, abraçou a iniciativa e deu início às obras de recuperação das nascentes do Rio Queima Pé. As intervenções incluíram a revitalização das nascentes, a construção de terraços e bacias de contenção, a instalação de intensificadores de recarga do lençol freático, a construção de um bueiro para escoamento adequado da água e a revegetação da cabeceira com espécies nativas.
A recuperação do Rio Queima Pé trouxe impactos positivos que já foram percebidos na região. Um levantamento da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) mostrou que a vazão do rio, que havia chegado a zero em 2020, aumentou para 7,8 litros por segundo em 2022. A mudança também foi capturada por registros fotográficos, demonstrando a revitalização da paisagem e a volta da água ao seu curso natural.
De acordo com o engenheiro agrônomo e mestre em Recursos Hídricos, Décio Siebert, após a recuperação, o Queima Pé nunca mais secou e tem contribuído para manter o fluxo hídrico desse manancial. O sucesso inspirou novos projetos, como a ampliação das ações para a bacia do rio Ararão, que também desempenha um papel fundamental para Tangará da Serra.
“O próximo passo é fazer a recuperação do Rio Ararão. Faremos a recuperação de todas as margens da APP, para que a gente consiga melhorar a quantidade e a qualidade dessa água”,
explica o biólogo da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Gabriel Eberhardt.
Para o produtor rural Antonio Miguel Beitum, que aderiu ao reflorestamento em áreas da sua propriedade, a recuperação do Rio Queima Pé foi essencial.
“É uma coisa muito importante reflorestar em volta do rio, porque sem água a gente não vive”.
O projeto de recuperação do Rio Queima Pé envolveu diversos parceiros institucionais, como o Sindicato Rural, o Rotary Clube Cidade Alta, o Comitê da Bacia do Rio Sepotuba, a Secretaria de Estado e Municipal de Meio Ambiente e empresas privadas. Além disso, alunos de escolas municipais participaram ativamente em ações educativas e no plantio de mudas, reforçando o compromisso da comunidade com a preservação ambiental.