Diário da Serra

Tangará da Serra perde dois pioneiros

Fabíola Tormes / Redação DS 11/04/2020 Geral

Messias Francisco dos Santos e Antônio Vanderlei Fernandes de Souza morreram nesta sexta-feira

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Tangará da Serra perdeu nesta sexta-feira, 10, dois pioneiros: Messias Francisco dos Santos e Antônio Vanderlei Fernandes de Souza. Ambos chegaram em Tangará da Serra em 1974, carregando a família e muitos sonhos.


Seu Messias, de acordo com a nora Iolanda Garcia, morreu em casa, na noite de sexta-feira, morte natural, aos 86 anos de idade. Seu corpo será velado no salão comunitário da Vila Esmeralda, no período da tarde, onde morou a vida toda.


Já Antônio Vanderlei Fernandes de Souza, 68 anos, vinha sofrendo de insuficiência cardíaca, em decorrência de uma doença de chagas. Foi internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em Tangará da Serra, chegando a melhorar. Depois, foi levado novamente a UTI, desta vez em Cuiabá, onde ficou por quase uma semana. “Começou a ter falência dos órgãos e ontem a noite, por volta da meia-noite, não resistiu”, informou a família. O velório será na Capela a partir das 12h30 e enterro às 17h. 


Homenagem


Os dois pioneiros já foram homenageados pelo Diário da Serra e suas histórias eternizadas nas páginas deste periódico, assim como nas edições do livro Memória.


Messias Francisco dos Santos


Seu messias, como é conhecido, é um dos milhares de mineiros, de muitos santa-vitorienses, que dedicou sua juventude, seus conhecimentos e sua conduta em favor de Tangará da Serra, estado de Mato Grosso.


Nascido em 16 de outubro de 1933. Filho de sitiantes. Muito cedo conheceu as durezas da vida. Aos 12 anos estava no mundo sem pai e sem mãe, cuidando e criando os irmãos mais novos.


Ainda jovem, dedicou sua vida à agricultura e à pecuária. No auge de sua juventude, jogou bola, dançou, amansou cavalos, comprou e vendeu gado, em terras mineiras.


Parte de sua juventude, depois que os irmãos estavam encaminhados na vida – casados – transitou pelo Triângulo Mineiro, por parte de Goiás. Casou. Enviuvou-se muito jovem. Acreditou no amor, na vida; casou-se outra vez, e outra vez. Desta última, com uma viúva que tinha quatro filhos: Rodney, Eliege, Pedro e Eliana. Estes o chamam de pai, pelo carinho e cuidados que receberam desde a infância até os dias de hoje. Segundo relatos de seus filhos, aqueles que ele criou como se fossem seus: “Se todos os pais fossem iguais a ele, o mundo seria melhor, mais justo e mais fraterno”.


Em 1974, decidiu deixar à pacata Itaberaí, Goiás, e aventurar-se em terras mato-grossenses. No dia 06 de janeiro acampou a beira do córrego Angelim, acima da Serra Tapirapuã. Todos seus pertences estavam encima de caminhonete Ford 70. Todo seu patrimônio se resumia a algumas mobílias, ferramentas, uma caminhonete, a esposa e os quatro filhos.


Quando conseguiu subir a serra Tapirapuã trocou a caminhonete por um pedaço de chão na Gleba Canta Galo, próxima ao Distrito de Joaquim do Boche. 


Antônio Vanderlei Fernandes de Souza


Foi no ano de 1974 que o potiguar nascido em Natal, Antônio Vanderlei Fernandes de Souza, casado com a mineira natural de São Francisco de Sales, Iolanda Gonçalves de Urzedo Souza, escolheu Tangará da Serra para viver. Casados em 1971, o casal tinha três filhos à época (Cleide, Cleiton e Aldenis). 


A trabalho, na cidade de São Simão-GO, Antônio ouviu amigos falarem sobre o lugar até então escondido nos confins do Mato Grosso, com uma propaganda convincente sobre o solo fértil. Talvez, por trabalhar justamente com isso, Antônio ficou ainda mais interessado e trouxe a família para onde um de seus amigos já estava àquela altura.


“Aquilo entrou na minha cabeça. Eu era empregado na época, trabalhava e falei para o meu povo ‘vamos em Tangará da Serra porque o Agenor Borges mora lá e conta que tudo que se planta dá e as terras são baratinhas’”, relata, ao lembrar que a família havia perdido uma fazenda para o financiamento e que a vinda para Tangará da Serra seria a chave para o recomeço.


Em 13 de setembro daquele ano, por volta das 16h, a família e um grupo com cerca de 16 pessoas chegava ao município pela rua São Paulo, hoje no centro. Por aqui já morava o pai de Iolanda e a família deu sequência à vida, com o desbravador Antônio trabalhando no campo, impressionado com a enorme quantidade de chuva que caía na cidade.


Com o desenvolvimento, Tangará da Serra foi abrindo caminhos. Antônio foi o primeiro operador de máquinas da cidade, no advento das lavouras mecanizadas. Motorista, maquinista e até plantador. Antônio trouxe o que aprendeu em Minas Gerais e Goiás para Tangará da Serra, ajudando assim a si mesmo, aos familiares e aos outros. Caminhoneiro aposentado, Antônio também foi muito importante para a criação da Associação dos Caminhoneiros de Tangará da Serra, sendo um dos pleiteadores da causa pelo terreno da sede.


Após residir no que hoje é o centro da cidade, na Linha 11 e na região onde atualmente está localizada a Feira do Produtor, chamada pelos mais antigos de ‘Vila Mineira’, Iolanda e Antônio construíram sua história junto dos filhos e deram a eles Cleber, o irmão caçula, único fruto da relação nascido em Tangará da Serra.  “Tudo o que adquirimos foi dessa forma. Ele trabalhando fora e eu cuidando dos filhos em casa”, disse Iolanda.


Iolanda e Antônio residiam em uma propriedade rural na região Pecuama e são avós de oito netos. 

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