Educadora Haliti-Paresi e primeira professora indígena de Tangará da Serra, Nilce dedica mais de três décadas à valorização da cultura e ao fortalecimento da educação escolar indígena
Neste sábado, dia 19 de abril, celebramos o Dia dos Povos Indígenas, uma data de grande importância porque celebra a diversidade cultural dos povos indígenas no Brasil, além de contribuir para a preservação da cultura e da história desses povos. Essa data serve ainda como momento de reflexão sobre a luta contra o preconceito contra os indígenas e pela manutenção de seus direitos.
Para marcar a data, uma história que inspira a luta por uma educação com identidade. A trajetória da Haliti-Paresi, Nilce ZonizoKemairô é de importância na história da educação indígena em Tangará da Serra. Primeira mulher indígena a atuar como professora no município, ela soma 32 anos dedicados à formação de crianças e jovens das comunidades tradicionais. Hoje, coordena a Educação Escolar Indígena na Secretaria Municipal de Educação, acompanhando 36 professores em 20 escolas da região.
Nilce começou a lecionar em 1993, indicada pelo cacique da Aldeia Rio Verde para substituir um professor. Sem formação pedagógica, iniciou com coragem e vontade de aprender. Desde então, buscou conhecimento: cursou Magistério Intercultural Indígena, formou-se em Ciências Sociais com habilitação em História, fez pós-graduação em Educação Escolar Indígena e foi aprovada no mestrado intercultural da Unemat.
Apesar de morar na cidade para facilitar seu trabalho, Nilce mantém os laços com a aldeia. “Todo final de semana estou com a minha família”, diz.
No entanto, ela aponta desafios como a falta de legislação municipal específica para a educação indígena e dificuldades logísticas que comprometem o trabalho nas escolas. “Muitas vezes, não conseguimos atingir nem 50% do que precisa ser feito”, lamenta.
Nilce defende a valorização da identidade e cultura indígena nas escolas, com ensino da língua materna, história e rituais. Também cobra das autoridades leis que fortaleçam a educação indígena. “Os governantes têm que fazer sua parte.”
Enfrentando preconceitos, inclusive por ser mulher em posição de liderança, Nilce segue firme: “Mostro que estou aqui para fazer o melhor pela educação indígena. Não é isso que vai me fazer desistir.” Seu legado é de resistência, coragem e amor à cultura.